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Pesquisadoras da PUCRS disponibilizam cartilha para identificação e manejo de situações de violência contra crianças e adolescentes

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Objetivo é alertar e orientar sobre riscos de abusos no contexto de desastre no Rio Grande do Sul

As enchentes que causaram estragos em grande parte do Rio Grande do Sul deixaram milhares de desabrigados, incluindo famílias inteiras, animais de estimação e muitas crianças. Neste momento de calamidade, a PUCRS é um dos abrigos emergenciais em Porto Alegre, com estrutura montada em seu Parque Esportivo, e recebe e encaminha doações.    

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Os professores e pesquisadores da Universidade, de diversos campos do conhecimento, se mobilizam para ajudar a disseminar informações corretas e que apoiem que está na linha de frente neste momento: voluntários, jornalistas, agentes públicos, profissionais de saúde e tantas outras áreas. A pesquisadora Andreia Mendes, do Programa de Pós-Graduação em Educação da PUCRS e integrante, Laboratório das Infâncias (LabInf), Núcleo de Estudos e Pesquisa em Infância(s) e Educação Infantil (Nepiei) esclarece dúvidas sobre como se pode interagir de maneira saudável e respeitosa com as crianças.   

“A primeira coisa a ser considerada é que as crianças que estão em um abrigo certamente foram diretamente atingidas pela enchente. Isso significa que tiveram suas casas invadidas pelas águas, lama, estragos e podem ter tido inúmeras perdas (materiais, familiares, afetivas). A criança que está abrigada não está ali em uma situação confortável. Elas expressam no olhar inúmeros sentimentos”, explica a professora. No abrigo instalado na PUCRS há uma equipe de voluntários dos cursos de educação física, comunicação, e outras áreas, realizando atividades recreativas e culturais. Há brinquedos e livros à disposição e a partir de hoje (09/05) haverá também sessões diárias de cinema.  

Veja como pode ajudar:  

Cuidados de abordagem com crianças  

  • Permitir o silêncio e as diversas emoções   
  • Acolher e informar que ela está segura no abrigo  
  • Não fazer promessas de que “vai ficar tudo bem”   
  • Não a retirar do contato com a família, onde deve se sentir segura  
  • Entender que cada criança se comunica de uma forma diferente   
  • Atender as necessidades básicas e perguntar como ela se sente  

Como explicar o que aconteceu e segue acontecendo  

  • Perguntar o que ela entendeu sobre as enchentes   
  • Questionar se ela tem dúvidas e responder (se não souber, pesquise as informações em fontes confiáveis)   
  • Explicar que o ocorrido foi um desastre climático e a importância de preservar o meio ambiente para que isso não ocorra  
  • Se for uma criança pequena, contar uma história que explique de forma simplificada e lúdica   
  • Explicar que é preciso aguardar que o nível das águas baixe para poder realizar as limpezas e conscientizar sobre as doenças 

Ideias de recreação e lazer   

  • Propor jogos e brincadeiras interativas  
  • Convidar para atividades que também sejam exercício físico, como pular corda  
  • Contação de história  
  • Hora do cinema com projeções de desenhos e filmes infantis  

A professora ainda reforça que o momento é de escuta ativa e empatia. É preciso entender que os desabrigados passaram por situações de trauma e as crianças têm mais dificuldades de compreensão da complexidade da situação. Ainda reforça que será necessário que as escolas abordem as pautas climáticas e de empatia quando as atividades escolares retornarem.   

“Habilidades socioemocionais são pauta da educação básica com ênfase a partir da BNCC (2017), mas isso é só o começo porque não se aprende emoções. Se sente, percebe, reconhece.  Se formos sensíveis, seremos capazes de reconhecer nosso papel na sociedade e, quem sabe, as crianças do futuro serão adultos mais sensíveis ao consumo consciente, ao meio ambiente e ao cuidado com o outro”, compartilha Andreia.   

Outro ponto que deve ser reconhecido é que crianças neuroatípicas precisam de um olhar mais cuidadoso na interação e é necessário reconhecer que interagem de formas diferentes. Andreia ainda ressalta que crianças neuroatípicas tendem a desorganizar mais em situações estressantes ou em lugares com muito movimento e barulho, e por isso é importante buscar lugares mais isolados ou encaminhá-las, se possível, a abrigos específicos para famílias atípicas.  

Identificação e manejo de situações de violência   

Crianças e adolescentes se tornam especialmente vulneráveis em contextos de crise e risco, ficando expostas a situação de violência física, sexual e psicológica. Todos têm a responsabilidade compartilhada de protegê-los de quaisquer tipos de violências, abuso, exploração e negligência. Para isso é necessário ter acesso a informações de qualidade e saber como proceder. Confira aqui a cartilha preparada pelo Grupo de Pesquisa Violência, Vulnerabilidade e Intervenções Clínicas da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS.   

“Em contextos como o que a gente está vivendo de desastre, essas situações podem se agravar, a vulnerabilidade desses grupos aumenta. Então, é muito importante que organizemos medidas para prevenção. Nesse sentido, estabelecer um monitoramento contínuo das crianças e adolescentes nos locais de acolhimento é fundamental”, ressalta a coordenadora do grupo, Luísa Habigzang. 

Confira aqui alguns pontos de atenção   

  • Ao dormir, a criança/adolescente deve ficar entre a família, de preferência acompanhada de mulheres.   
  • Coloque pulseiras para identificação de todas/as, com nome e sobrenome do responsável.  
  • Não deixe a criança/adolescente sem monitoramento da família ou voluntária identificado.  
  •  A saída do local deve ser feita somente com responsável e/ou voluntária identificado.  
  • Prepare um local específico para crianças com monitoramento da equipe.    
  • Banheiro: crianças/adolescente deverão estar sempre acompanhadas do responsável ou voluntária identificada.  
  •  

Como identificar sinais de violência  

Violência física   

  • Qualquer conduta que ofenda a integridade ou a saúde corporal do indivíduo.   

Exemplos: golpes, empurrões, beliscões, tapas, socos, chutes, puxões de cabelo, uso de armas de qualquer natureza, restrição de movimento, entre outros.  

Violência psicológica  

  • Engloba qualquer comportamento que tenha a intenção de diminuir a autoestima e de humilhar a outra pessoa.  

Exemplos: isolamento social, manipulação, insulto, chantagem, exploração, limitação do direito de ir e vir, violação da sua intimidade ou qualquer outro meio que cause prejuízo à saúde psicológica.  

Violência sexual  

  • Compreende qualquer ato ou tentativa de prática sexual, comentários ou avanços indesejados e não consentidos pela outra pessoa (manipulações, chantagens emocionais, insistência, toques inapropriados, estupros).  
  • Envolve ainda atos para comercializar ou utilizar de outra maneira a sexualidade de alguém através de coerção e exposição indevida a conteúdo sexual.  

O que fazer após identificar um caso de violência  

Caso você esteja atuando como voluntário em um abrigo e identifique ou receba relato de alguma situação de violência, encaminhe o caso para o profissional de saúde ou assistência social que está no plantão.   

Acione o Conselho Tutelar mais próximo em funcionamento. Após as 18h, o contato deve ser feito com o Plantão de Atendimento do Conselho Tutelar pelo telefone (51) 991581348.  

Em qualquer caso grave de violência, a Polícia Militar deve ser acionada imediatamente por meio do telefone: 190. 

“Não é o papel das pessoas que estão atuando nos abrigos fazer uma investigação para checagem de veracidade daquela situação. Ao receber um relato ou ao observar algo que levante a suspeita de uma situação de violência isso deve ser notificado ao conselho tutelar, encaminhado para a brigada militar. Então os órgãos competentes farão a investigação. O nosso papel nos abrigos é a prevenção e o acolhimento das pessoas”, ressalta ainda a coordenadora do Grupo de Pesquisa Violência, Vulnerabilidade e Intervenções Clínicas. 

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