A Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que visa aumentar gradualmente a licença-paternidade no Brasil. A proposta, aprovada nesta terça-feira (4), prevê a expansão dos atuais cinco dias para 20 dias, com implementação gradual ao longo de quatro anos após a aprovação da lei. A medida segue agora para o Senado, onde será analisada.
A discussão sobre a importância da presença paterna nos cuidados iniciais com o bebê tem se intensificado, impulsionada por estudos que investigam os impactos dessa presença no bem-estar familiar. Pesquisas apontam para uma série de benefícios, que vão desde a diminuição do estresse em casa até o fortalecimento do vínculo afetivo entre pai e filho, com reflexos no desenvolvimento infantil e na saúde de todos.
Estudos revelam que o tempo dedicado aos cuidados com o recém-nascido não é apenas uma formalidade. Uma revisão bibliográfica analisou diversos estudos e apontou que famílias onde o pai usufruiu da licença apresentaram menos hospitalizações de bebês. A proximidade e o cuidado coletivo nas primeiras semanas de vida impactam positivamente a saúde da criança, reduzindo o risco de lesões e aumentando a adesão à vacinação.
A participação ativa nos cuidados com o bebê também beneficia o pai, estimulando o desenvolvimento de áreas do cérebro responsáveis por funções como vigilância, percepção, recompensa, motivação, compreensão social e empatia.
Pesquisas indicam que a licença-paternidade desempenha um papel importante na adaptação cerebral do pai ao novo papel. A transição para a paternidade promove a neuroplasticidade, a capacidade do cérebro de se modificar em resposta a novas experiências. Cuidar de um bebê, literalmente, muda o cérebro.
Um estudo comparou a atividade cerebral de pais de primeira viagem nos Estados Unidos e na Espanha. Enquanto ambos os grupos apresentaram alterações cerebrais, os pais espanhóis, que têm direito a um período de licença maior, mostraram mudanças mais significativas em regiões cerebrais importantes para o foco e o cuidado infantil.
A presença paterna, desde os primeiros momentos, contribui para o desenvolvimento de um “cérebro paterno”. Interações frequentes e afetuosas no primeiro ano de vida do bebê favorecem o desenvolvimento cognitivo e emocional da criança, estimulando áreas cerebrais relacionadas à linguagem, regulação emocional e apego seguro. O cérebro do bebê é altamente maleável nesse período e se desenvolve a partir das experiências de vínculo e responsividade dos adultos ao seu redor.
A presença do pai também impacta positivamente na amamentação. Um estudo revelou que o risco de interrupção precoce do aleitamento materno é maior quando o pai não está presente. Além de fortalecer o sistema imunológico do bebê, o aleitamento materno, favorecido pela presença paterna, contribui para a saúde da microbiota intestinal.
A licença-paternidade ampliada também é vista como uma política de cuidado com efeitos sociais e econômicos a longo prazo. Estudos apontam que o aumento da licença resulta em maior envolvimento dos pais nas atividades domésticas e de cuidado, fortalecimento do vínculo com os filhos e redução da desigualdade de gênero.
A licença-paternidade pode transformar a forma como os homens se enxergam no cuidado e nas responsabilidades familiares, impactando a redução da desigualdade salarial, da violência doméstica, o equilíbrio no mercado de trabalho e a maior produtividade futura.
A presença ativa do pai também contribui para a redução do estresse e para o equilíbrio emocional de toda a família, além de elevar os níveis de ocitocina, o hormônio do afeto.
Estudos indicam que crianças com pais presentes nos primeiros dias de vida tendem a ter melhor bem-estar emocional, mais habilidades sociais, desempenho escolar superior e menos comportamentos de risco na adolescência, além de ganhos na linguagem e no desenvolvimento socioemocional.
Ainda assim, especialistas apontam que a discussão atual representa apenas o início de uma jornada. Os melhores resultados são observados em licenças com duração de, pelo menos, 30 dias. A possível ampliação, no entanto, é vista como um passo fundamental para a mudança cultural da função paterna na família.
Fonte: saudeabril


