A crise climática, antes vista como um problema distante, manifesta-se agora de forma inegável, transformando padrões de vida e de saúde. Secas e enchentes forçam o deslocamento de populações, a escassez de recursos altera a geopolítica e doenças infecciosas cruzam fronteiras. A sobrevivência individual está intrinsecamente ligada à capacidade da civilização de reconhecer que a proteção do meio ambiente é, essencialmente, o cuidado consigo mesma.
Um exemplo drástico desse cenário ocorreu no Rio Grande do Sul em 2024, onde inundações devastadoras afetaram 90% das cidades, impactando a vida de mais de 2 milhões de pessoas. O evento demonstrou que a crise climática é, simultaneamente, uma crise social e de saúde pública.
Atualmente, mais de 3 bilhões de pessoas, representando quase metade da humanidade, vivem em condições de vulnerabilidade climática, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Entre 2020 e 2023, o Brasil registrou um aumento de 250% nos desastres climáticos, com 92% dos municípios sofrendo com secas, enchentes e tempestades. A Organização Mundial da Saúde (OMS) adverte que, se medidas não forem tomadas, pode haver um aumento de até 250 mil mortes por ano entre 2030 e 2050, devido a desnutrição, malária, diarreia e estresse térmico.
Diante desse quadro, a COP30, que será realizada em Belém, surge como uma oportunidade crucial para colocar a saúde no centro da agenda climática. O Brasil apresentará o Plano de Ação em Saúde de Belém durante a conferência em novembro, com foco em vigilância em saúde, inovação tecnológica e fortalecimento de políticas multissetoriais.
Em consonância com esses esforços, o projeto Recomeçar, implementado pelo Hospital Moinhos de Vento em parceria com o Ministério da Saúde, será apresentado como um estudo de caso na COP30. A iniciativa visa organizar o cuidado em saúde mental em cenários de emergência e desastres, oferecendo uma resposta integrada aos impactos desses eventos na população. Dados da OMS indicam que cerca de 20% das pessoas desenvolvem problemas emocionais após catástrofes climáticas, uma realidade observada nas recentes enchentes no Rio Grande do Sul.
O setor de saúde, por sua vez, contribui com cerca de 5% das emissões globais de gases de efeito estufa, devido ao seu alto consumo de energia, água e insumos, além da significativa geração de resíduos. No entanto, é possível reconfigurar esse modelo, adotando uma abordagem baseada em ciência, método e gestão para eliminar emissões de CO2, migrando para energia 100% renovável e implementando práticas de gerenciamento de resíduos mais eficientes.
A COP30 representa uma oportunidade para que governos, instituições e cidadãos reconheçam a importância das tragédias climáticas recentes e assumam a responsabilidade de construir um futuro mais sustentável, onde a saúde das pessoas seja priorizada.
Fonte: saude.abril.com.br


