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A pandemia que construiu o bem comum

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Luiz Augusto Barreto Rocha

Quando surgiram as primeiras notícias da pandemia do Covid-19, a sensação de impotência em Manaus foi a mesma das demais regiões do mundo. Tudo novo e assustador. Estávamos diante de uma guerra sem as armas mínimas, enfrentando um inimigo invisível e desconhecido, em meio à uma profusão de desinformações, ideologizadas e revestidas do falso saber ou de suposta ciência, em meio a outras que eram reais, com difícil distinção entre elas.

Como empresários, acostumados a lidar com crises diárias de crédito, de mercado, logísticas, políticas, associativas, familiares, dentre outras, vimos a pandemia como um embaraço a mais, entretanto, e muito rapidamente, ela se apresentou como o embaraço maior.
Assim, foi imperioso escolher no que acreditar, meditar sobre que fios e que novelos priorizar, para onde ir, com quem e o que compartilhar. Fomos assim tateando pela súbita escuridão e com a obrigação de acertar. Nos aspectos econômicos estimavam uma depressão repentina, possivelmente mais grave que a de 2008, ou mesmo que a Grande Depressão de 1929. E o que mais nos assustava, a perda, muitas perdas de vidas humanas, da qualidade de vida das pessoas, do fantasma da fome e das moléstias da violência. Tínhamos pouca munição, portanto, não podíamos errar. Hoje, entre feridos e acidentados, podemos dizer que, movidos pela força da solidariedade, até aqui sobrevivemos.

Para a história, importante registrar: ao invés de colocar o cadeado nas fábricas e ir para os nossos aconchegantes lares e aí passar a propalada quarentena. Porém, as principais lideranças do Polo Industrial de Manaus arregaçaram as mangas, tomaram para si a responsabilidade da iniciativa e passaram a articular soluções com as lideranças nacionais com quem partilhamos visão de mundo. Mais do que isso: temos habilidades de alinhamento nas abordagens e condutas. E esta foi a forma de reagir, criar, crescer e fortalecer. Descobrimos que ficávamos mais fortes a medida em que fomos ampliando a interlocução e a mobilização para enfrentar esse terrível inimigo. Apesar de invisível, o vírus nos mostrou claramente as consequências que todos enxergaram, dentre estas a fome, a doença e o desemprego.

E foi assim que, num contexto inicial de mero grupo de WhatsApp e uma solidária maratona de ligações, foi criado o Comite Indústria ZFM Covid-19 e estabelecido o lema: “Mobilizar competências, braços e recursos para, como sociedade, enfrentarmos e vencermos esta crise.” A partir daí foram surgindo mais protagonistas da indústria ou com ela identificados, todos com suas especialidades e movidos pela solidariedade, ora com a indumentária de soldados e, quando necessário, exigentes como generais, para enfrentamento do inimigo comum. Na área da saúde, grupos foram-se formando para produzir EPIs para proteção dos heróis da saúde na linha de frente, para o atendimento aos pacientes, álcool em gel começou a fazer parte das linhas de produção, empresa de bebidas fornecendo embalagens e logística, face shields, máscaras, aventais, macacões, hospitais, respiradores, enfim, tudo aquilo que se fizesse necessário.

Nesse cenário solidário cresceu, naturalmente, um compromisso ético, cívico e fraterno, empurrado pela notícia da explosão dos segmentos sociais em extrema vulnerabilidade. E foi resgatado o lema: “quem tem fome tem pressa”, do sociólogo Betinho. Rapidamente se constituiu a Ação Social Integrada das entidades Cieam, Fieam, Abraciclo e Eletros, que, além dos novos produtos industriais de combate à Covid-19, arrecadou cestas básicas, com objetivo de colocar comida na mesa dos mais vulneráveis. Esta ação segue e, até hoje, contabiliza mais de 240 toneladas de alimentos, arrecadadas junto à indústria e seus parceiros e distribuídos religiosamente aos destinatários. Alguns nomes para a posteridade: Alfredos, Andersons, Antonios, Armandos, Augustos, Barrelas, Brunos, Capelas, Danieis, Denis, Eduardos, Everardos, Fabiolas, Grecos, Helenos, Iuquios, Jeans, Jorges, Joões, Josés, Julios, Lucianos, Lúcios, Luizes, Marcos,Márcios, Marcelos, Moisés, Nasseres, Nelsons, Paulos, Portelas, Rafaeis, Régias, Ricardos, Ronaldos, Salehs, Sydneis, Suenys, Vanessas, Uedas, Wilsons… Eles se tornaram multidão, nenhum mais importante que o outro e todos imbuídos do propósito de contribuir voluntariamente, muitas vezes com risco pessoal de contágio, para atender comunidades em vulnerabilidade e atingidas pela fome e pelo vírus, indígenas, idosos, pessoas com deficiências, artistas… seres humanos!

Em seguida, mais um fruto, foi criado o GT pós-pandemia, que está trabalhando, também voluntariamente, na construção das alternativas econômicas atuais e futuras de nosso estado. Assim, em Manaus, a indústria não parou. Alimentou, produziu, protegeu, seguiu em frente, gerando emprego, renda, dignidade, e estabeleceu padrões mundiais de proteção aos colaboradores. Demos exemplo. O governo constituiu seu Comitê de Crise onde fomos ouvidos. Em algum momento futuro a verdadeira Ciência poderá nos explicar o que ocorreu em Manaus. Partimos de uma realidade que foi noticiada como de “preocupação mundial” para, em segundo momento, viver e enfrentar os desafios de Manaus cuja performance poderá ser confirmada como “cidade modelo” no combate à pandemia. Segundo os principais jornais, no final de semana passada, nenhuma morte foi aqui registrada decorrente da pandemia. Manaus acaba de ser a primeira capital brasileira onde as aulas presenciais foram autorizadas a retornar pelas autoridades sanitárias.

Independentemente do que venha pela frente, no Polo Industrial de Manaus ninguém ficou de braços cruzados à espera do pior. Agimos. Seguimos agindo e nos unimos. Fizemos a diferença. Que este espírito persista e persistirá, para podermos construir um mundo melhor, menos desigual e mais justo.

(*) Luiz é advogado, empresário, presidente do Conselho Superior do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.

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