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Bolsonaro critica governadores e passaporte da vacina

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Em pronunciamento, ele defendeu a exigência de prescrição médica para vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra Covid-19

Em pronunciamento em cadeia de rádio e TV no último dia do ano, o presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a criticar os governadores pelas medidas de distanciamento social e isolamento adotadas no âmbito da pandemia da Covid-19. Bolsonaro também criticou a obrigatoriedade do passaporte vacinal, a exigência de apresentação de comprovante de vacinação contra a Covid-19 para entrada em alguns espaços públicos e até para ingresso no país. O presidente também disse ser favorável à exigência de prescrição médica para a vacinação de crianças de 5 a 11 anos contra a Covid-19.

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“O governo dispensou recursos bilionários para que estados e municípios se preparassem para enfrentar a pandemia. Com a política de muitos governadores e prefeitos de fechar comércios, decretar lockdown e toque de recolher, a quebradeira econômica só não se tornou uma realidade porque nós criamos o Pronampe [Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte] e o BEM [Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda], programas para socorrer as pequenas e médias empresas, bem como fomentar acordo entre empregadores e trabalhadores para evitar demissões”, afirmou.

Enquanto o presidente disse, ao longo desses quase dois anos, que era preciso ter cuidado com os efeitos econômicos da pandemia, a maior parte dos governadores focou ações de saúde, o que gerou embates com o mandatário. Com essa diferença, a relação de Bolsonaro com governadores foi marcada por desgastes.

“Também, como anunciado pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, defendemos que as vacinas para crianças entre 5 e 11 anos sejam aplicadas somente com o consentimento dos pais e prescrição médica. A liberdade tem que ser respeitada”, afirmou. A postura é amplamente criticada pela sociedade científica, tendo em vista que a vacinação foi autorizada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A SBC (Sociedade Brasileira de Pediatria) já defendeu publicamente a vacinação de crianças contra a Covid-19.

Ainda falando sobre vacina, o mandatário exaltou a distribuição de imunizantes, e se defendeu de afirmações de que o governo demorou a adquirir vacinas. “Lembro que em 2020 não existia vacina disponível no mercado, e a primeira pessoa vacinada foi no Reino Unido, em dezembro. Todos os adultos que assim desejaram foram vacinados no Brasil. Fomos um exemplo para o mundo”, afirmou.

A fala é reflexo das apurações da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid-19, que gerou grandes desgastes ao governo. Ao longo da apuração, que ocorreu de abril a novembro deste ano, divulgou-se, por exemplo, que o governo deixou diversos emails da farmacêutica Pfizer sem resposta, e que, embora a empresa tivesse começado a oferecer vacinas ao governo brasileiro em agosto de 2020, um contrato só foi fechado em março deste ano, após pressão do Parlamento e alteração da legislação.

O pronunciamento, de seis minutos, foi gravado no último dia 27, antes de o presidente ir para São Francisco do Sul (SC), onde deve ficar de férias até o dia 4 de janeiro. Nele, Bolsonaro defendeu ações tomadas pelo governo federal.

Nesta sexta-feira (31), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski suspendeu um despacho do MEC (Ministério da Educação) que proibia a exigência de comprovante de vacinação contra a Covid-19. Além disso, no último dia 15, formou-se maioria no STF para validar a decisão do ministro Luís Roberto Barroso que determina a cobrança de certificado de vacinação de quem tentar entrar no Brasil.

Economia

Bolsonaro falou em diversos momentos sobre os aspectos econômicos do país, que tem expectativa ruim de crescimento. “Desde o início da pandemia, disse que deveríamos combater o vírus, cuidar dos idosos e dos com comorbidades, e preservar a renda e o emprego dos trabalhadores”, afirmou.

O presidente exaltou a criação do programa social Auxílio Brasil, que substituiu o Bolsa Família. “Mostramos a nossa identidade ao socorrer os mais humildes que tinham sido abandonados pelos que mandavam fechar tudo”, disse.

O mandatário ainda falou sobre a iniciativa privada e a geração de postos de trabalho, e afirmou que o governo “reconquistou a confiança dos investidores, brasileiros e estrangeiros”. Segundo Bolsonaro, isso possibilitará “a redução da inflação, consequência da equivocada política do ‘fica em casa, a economia a gente vê depois'”.

Chuvas

O presidente falou ainda sobre o cenário de diversas regiões do país que sofrem com as fortes chuvas neste fim de ano, em especial a Bahia e Minas Gerais. “Lembro dos nossos irmãos da Bahia e de Minas Gerais, que estão sofrendo efeitos de fortes chuvas na região”, disse.

Bolsonaro afirmou que já no primeiro momento determinou que os ministros João Roma (Cidadania) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) prestassem apoio aos moradores das regiões atingidas. O mandatário foi muito criticado por não ter interrompido as férias em Santa Catarina para ir visitar as áreas afetadas. No dia 12 de dezembro, ele sobrevoou algumas regiões da Bahia.

Ligeira crítica a Moro e aceno às bases

Prestes a entrar em ano eleitoral, quando buscará a reeleição, Bolsonaro mencionou ao longo do seu discurso questões que dialogam com a sua base, frisando que hoje o Brasil possui um governo “que acredita em Deus, respeita seus militares, respeita a família e deve lealdade ao seu povo”. O mandatário ainda fez uma ligeira crítica ao ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, pré-candidato à Presidência.

“Assumi um Brasil com sérios problemas morais, éticos e econômicos. Formamos ministérios com pessoas capazes […] Ao longo do tempo, alguns nos deixaram por livre e espontânea vontade. Outros foram substituídos por não se adequarem aos propósitos da maioria que me elegeu”, afirmou. A fala é uma referência ao ex-ministro, que deixou o governo em março do ano passado e passou a ser um crítico do presidente Bolsonaro.

O mandatário ainda disse que seu governo flexibilizou “a posse e o porte de arma de fogo para o cidadão”, uma grande bandeira de campanha. Assim que assumiu a cadeira presidencial, em 2019, Bolsonaro publicou uma série de decretos com o intuito de flexibilizar o acesso a armas de fogo, mas foi frustrado pela Justiça. Hoje, diversas ações que envolvem os decretos tramitam no STF (Supremo Tribunal Federal), com pedidos de vista para o ministro Nunes Marques, depois de três votos contra os decretos. Parte dos decretos está suspensa por decisão da ministra Rosa Weber.

Também no pronunciamento, o presidente afirmou que, em três anos de governo, não houve casos de corrupção, outra bandeira de campanha. No entanto, o ex-ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, foi denunciado pelo Ministério Público de Minas sob a acusação de envolvimento no caso das candidaturas-laranja do PSL.

Mesmo após o indiciamento de Álvaro Antônio pela Polícia Federal, o ministro continuou no governo. Ele só foi demitido em dezembro do ano passado. Já o filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), está sendo investigado pela suposta prática de “rachadinhas” em seu gabinete quando era deputado estadual no Rio de Janeiro.

No início deste mês, em conversa com apoiadores, o presidente disse que não iria afirmar que no seu governo não há corrupção. “Porque a gente não sabe o que acontece, muitas vezes. Mas, se tiver qualquer problema no meu governo, a gente vai investigar isso”, afirmou.

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