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Caravana África Diversa Aporta Saberes Ancestrais ao Rio em Celebração Franco-Brasileira
Artistas, pesquisadores e grupos de tradições culturais do Brasil e da França estarão reunidos, entre este sábado (22) e a próxima quinta-feira (27), em diversos pontos da cidade do Rio de Janeiro, para debates e apresentações de espetáculos com o foco em artes cênicas e saberes ancestrais.
A programação faz parte da Caravana África Diversa e chega à capital fluminense dentro das comemorações dos 200 anos de amizade franco-brasileira e da primeira Temporada Brasileira na França, realizada há 20 anos.
A edição de 2025 da Caravana será apresentada no Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (CNFCP/Iphan), nos teatros Cacilda Becker e Dulcina, e na BiblioMaison, no centro da capital. Também está prevista programação no Museu de Arte do Rio, na região portuária.
O evento começou em Nantes, na França, entre os dias 6 e 9 de novembro, com atividades que ocorreram na La Compagnie du Café-Thêatre e na Maison de l’Afrique.
“A gente tenta estar em museus, espaços oficiais, mas também na rua e em espaços culturais, que normalmente não abraçariam essas programações. A gente tenta também abraçar a cidade inteira, que recebeu as pessoas escravizadas”, afirmou a idealizadora e curadora da Caravana África Diversa, Daniele Ramalho, de Nantes, em entrevista à Agência Brasil por telefone.
No entendimento de Daniele, a cidade do Rio de Janeiro conta essa herança africana, e a sua participação na construção da sociedade.
“Fazer uma oficina sobre folhas em um quilombo, que tem uma plantação, é bem diferente do que em uma sala de aula. O percurso também transforma o olhar da gente”, pontuou, comentando a diversidade da programação.
Ancestralidade em Destaque: Quem são os Guardiões da Tradição?
A Caravana África Diversa traz para o centro do debate a importância da ancestralidade e do saber transmitido através das gerações. Mas quem são os protagonistas dessa narrativa? Quem são os guardiões da tradição que irão compartilhar seus conhecimentos e experiências no Rio de Janeiro? Descubra a seguir alguns dos nomes confirmados e o que eles representam para a cultura afro-brasileira e africana:
- Capitã Pedrina: Guardiã na tradicional festa Reinado de Nossa Senhora do Rosário, a Capitã Pedrina é uma das convidadas a participar da programação. Sua presença é fundamental para compartilhar os saberes e a importância dessa manifestação cultural.
- Benjamin Abras: Pesquisador mineiro radicado na Europa, Benjamin Abras é uma referência na arte da performance e trará sua expertise para a Caravana.
- Hassane Kouyaté: Ator, diretor e griô de Burkina Faso, Hassane Kouyaté é o curador convidado da Caravana, trazendo uma perspectiva valiosa sobre a cultura africana.
Daniele Ramalho ressalta a importância das “griotes”, mulheres com títulos equivalentes aos griôs, chamadas de mestras no Brasil, como a Capitã Pedrina. “Tenho reverenciado muito essas mulheres. Nesta edição, especialmente, elas estão tendo destaque. O matriarcado é muito importante”, pontuou.
Para a mestra Capitã Pedrina, essas ações afirmativas ajudam a despertar nas pessoas “um sentir, um novo pensar, um novo olhar” sobre os modos de vida particulares dessas sociedades. “Poder mostrar o quão isso é importante na sobrevivência e no dia a dia desse mundo, que se pretende globalizado, mas, na maioria das vezes, não consegue estender o apoio necessário aos jovens e crianças e até mesmo às pessoas mais idosas, buscando conscientizar sobre nossos valores”, disse à Agência Brasil.
“Quem não sabe de onde vem, não sabe para onde ir. Tem que mostrar as raízes, o valor, para a pessoa se perceber neste mundo e se encontrar, para ter equilíbrio mental e emocional para seguir a busca dos seus objetivos”, complementou.
O Legado Imaterial do Rosário: Reconhecimento e Conexão
Em 2025, a Rainha Konga do grupo de congado Massambique da Nossa Senhora das Mercês, Ana Luzia de Moraes, obteve o registro dos Saberes do Rosário: Reinados, Congados e Congadas como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, após 17 anos de luta. Sua participação na caravana em Nantes e o convite para o Rio são motivo de satisfação.
“A gente sente que é a continuidade de um trabalho em que a gente pode se conectar com outras realidades”, informou à reportagem.
Oferendas Artísticas: O Que Benjamin Abras Traz Para a Caravana?
O artista contemporâneo Benjamin Abras apresentará três “oferendas” na Caravana: o Masimba, um solo de dança teatro performativo criado por meio da linguagem de dança teatro afro butô; uma oficina; e uma performance de afro butô que será realizada no Museu de Arte do Rio (MAR).
O afro butô é uma linguagem experimental usada em performances, e Benjamin é um dos cinco pesquisadores no mundo que a estudam tanto como pesquisa como experimentação performativa.
Abras ressalta que o Brasil é um país de dimensões continentais, onde as tradições ainda não se encontraram e não se conhecem. Para ele, cada tradição afro-brasileira é uma biblioteca imensa de experiências de resiliência e de ressignificação de identidade e de empoderamento da humanidade da população negra.
Nesse sentido, ele acredita que a Caravana África Diversa vai permitir a possibilidade de encontros entre pessoas dessas tradições, como os griôs Hassane Kouyaté, de Burkina Faso, e Boniface Ofogo, de Camarões; e as mestras Capitã Pedrina, do Reinado de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, e as irmãs Menezes, caixeiras do divino do Maranhão”, destacou.
O artista acrescenta que essa troca de saberes é um diálogo de empoderamentos mútuos, em que as pessoas afrodiaspóricas percebem que não são minoria, e que, na realidade, a diáspora continua em expansão.
“O África Diversa é um aquilombamento tectônico trazendo essa experiência para as comunidades de tradição e também para os artistas contemporâneos afrodiaspóricos e africanos”, completou.
A Curadoria: Como a Caravana Ganhou Forma?
A curadora Daniele Ramalho trabalha com esculturas populares brasileiras, cultura indígena e referências afro-brasileiras desde os anos 2000. Nesse caminho, teve a sorte de encontrar alguns grupos e mestres que formaram o seu olhar sobre a vida, como Sotigui Kouyaté, um griô de Burkina Faso, durante uma oficina na qual ele falava da oralidade e da África. A experiência foi fundamental para ela, que, naquela época, começava a contar histórias nas quais a oralidade, o imaterial e o sagrado têm papel relevante.
“Tudo está interligado, como o canto, a dança, a história. Culturalmente, são sociedades muito ricas”, disse, acrescentando que, após o encontro com o griô, foi a Burkina Faso e ao Benin e teve a ideia de criar o Festival África Diversa, o primeiro nome da atual Caravana.
Qual o Apoio e Significado da Caravana África Diversa em 2025?
A programação Caravana África Diversa em 2025, tem apoio do Ministério da Cultura e da Petrobras e está incluída na programação do Ano do Brasil na França e Ano da França no Brasil, celebrando os encontros culturais entre Brasil, França e África. Todas as atividades desta edição serão publicadas em uma revista, especialmente editada e distribuída no fim da programação da Caravana, com patrocínio da Petrobras por meio da Lei de Incentivo à Cultura.
Impacto e Relevância da Caravana África Diversa
A Caravana África Diversa representa um marco importante no cenário cultural brasileiro, promovendo o intercâmbio de saberes ancestrais e o fortalecimento dos laços entre Brasil, França e África. O evento contribui para a valorização da cultura afro-brasileira e africana, fomentando o diálogo intercultural e o reconhecimento da importância da diversidade cultural.
Onde Acompanhar a Programação Completa?
Para ficar por dentro de toda a programação da Caravana África Diversa, incluindo horários, locais e artistas participantes, fique atento aos canais de comunicação do evento e da Agência Brasil. Não perca a oportunidade de vivenciar essa experiência única de imersão cultural e ancestral.
Como a Caravana África Diversa Contribui para a Sociedade?
Ao promover o encontro de culturas e saberes ancestrais, a Caravana África Diversa contribui para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e diversa. O evento fomenta o respeito às diferenças, o combate ao racismo e a valorização da identidade cultural afro-brasileira e africana.
Foto: Reprodução


