O futuro Centro de Arqueologia de Manaus, que ocupa o prédio tropical neoclássico colonial da antiga Câmara Municipal, na avenida Sete de Setembro, no Centro, consolidará a salvaguarda, proteção, divulgação e promoção do patrimônio arqueológico da cidade. Um dos conceitos que serão utilizados é o de musealização da arqueologia, método aplicado como recurso de exposição pública, conservando os remanescentes in situ (no local achado), com técnicas museográficas.
O prédio, que ficou abandonado por uma década, recebe intervenção promovida pela Prefeitura de Manaus, com recursos próprios, dentro do projeto “Manaus Histórica”, lançado na gestão do prefeito Arthur Virgílio Neto e que já restaurou diversos espaços e prédios públicos. “O Centro de Arqueologia será um dos grandes legados históricos que deixaremos à cidade, assim como o Museu da Cidade de Manaus, o Casarão da Inovação Cassina e o próprio Centro, que se reencontra com suas origens ao passo que caminha para a modernidade”, disse o prefeito Arthur.
Entre os últimos trabalhos realizados na pesquisa arqueológica, feitos durante o restauro, está a ampliação de uma unidade na trincheira do pátio, a fim de evidenciar os remanescentes arqueológicos neste local e conservá-lo in loco para a exposição pública. Essa é uma unidade expositiva com evidenciação de um vasilhame, que ficará exposto com a técnica da superfície em vidro e tratamento museográfico. A expografia é uma forma de comunicação de museus e centros de cultura onde é estabelecido o diálogo entre o acervo e o visitante.
“O Centro de Arqueologia de Manaus nasce com a característica e responsabilidade de conservar, preservar, pesquisar e divulgar todo esse potencial do patrimônio arqueológico evidenciado na obra de restauração da antiga Câmara, que estamos concluindo, como mais um dos legados históricos deixados pelo prefeito Arthur à cidade, o que garantirá às gerações futuras o entendimento do nosso passado, neste presente, com perspectiva futura”, declarou Cláudio Guenka, diretor-presidente do Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb), órgão que coordena as ações de restauro.
Em outra sala de exposição do Centro de Arqueologia de Manaus, o visitante poderá conferir um corte estratigráfico (por camadas) do terreno no interior da edificação histórica, exibindo um trecho do solo e da cultura material evidenciada durante a intervenção. “Vários cortes na mesma unidade de escavação estarão expostos ao público na sala exposição 2. A diversidade da cultura material histórica e pré-histórica do subsolo poderá ser vista por meio da instalação de vidro transparente no piso”, explicou o arqueólogo e museólogo da Biapó, Sérgio Costa. A empresa foi vencedora da licitação que realiza a restauração da antiga sede do Poder Legislativo.
Esse procedimento demonstrou que o subsolo da edificação histórica sofreu alterações durante o tempo. As camadas arqueológicas não estavam o tempo todo depositadas de maneira natural. Em alguns momentos o solo já estava alterado por intervenções anteriores. “Talvez as intervenções não tenham tido esse registro cuidadoso de 2020. Nota-se grande concentração de remanescentes de tradições arqueológicas, já publicadas em pesquisas pelo arqueólogo Eduardo Góes Neves. A equipe de arqueologia observou grande concentração de terra preta, da camada antropogênica (de atividades humanas), que atesta períodos cronológicos e manejo do meio ambiente, das sociedades pretéritas que ocuparam a região”, informou Sérgio.
Análises comparativas, as pesquisas anteriores e a cultura material resgatada no salvamento arqueológico na obra potencializaram a importância do chamado “Sítio Manaus”. “O sítio Manaus é o setor A, o Museu do Paço é o B, a Assembleia é o setor C e uma das primeiras contribuições da pesquisa arqueológica, para virar o Centro de Arqueologia, foi a transformação do espaço ocupado pelo prédio como setor D, desse mesmo sítio Manaus, conforme citação do Instituto de Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) em visita”, ressaltou o arqueólogo e museólogo da Biapó.
A pesquisa arqueológica revelou ainda fragmentos de cerâmicas pré-históricas de várias tradições de ocupação da Amazônia. O material resgatado e o salvamento arqueológico acabaram atestando a diversidade e a pluralidade cultural da ocupação. Manaus foi construída, os vilarejos e afins, em cima de sítios arqueológicos.
Durante os trabalhos, a equipe de arqueologia encontrou escombros originários de outras reformas na edificação e foi em um dos porões obstruídos, abaixo do contrapiso, a mais de 1,10 metro de profundidade, que se revelou os remanescentes arqueológicos, que podem estar relacionados às práticas mortuárias.
“As áreas evidenciadas apresentam resquícios de remanescentes arqueológicos que vão fazer parte da expografia dentro do projeto. Uma parte ficará conservada in loco, revelando como se formou parte desse sítio. Apesar de outras obras terem ocorrido no prédio, ao longo dos anos, apenas agora se teve esse tratamento com a intervenção, o cuidado de fazer o registro com a devida aprovação do Iphan, além de apresentar soluções técnicas para deixar o que foi encontrado em evidência”, contou o arqueólogo.
Os remanescentes coletados apontam para a formação de um sítio arqueológico multicomponencial (que integra domínios de várias ciências), com testemunhos de culturas pré-históricas e europeias. Para o autor do projeto, o arquiteto Almir de Oliveira, por meio desse espaço dedicado à pesquisa, curadoria, guarda e difusão cultural sobre arqueologia, a obra representará um novo marco histórico à cidade. “Manaus virá protagonizar papel importante na história da preservação do patrimônio cultural brasileiro. Trabalho árduo de cooperação e expertise levado a termo em um ambiente de harmonia e profissionalismo digno de uma cidade da importância de Manaus”, observou Almir de Oliveira.
O Centro
Para atender as disposições sobre conservação de bens arqueológicos móveis, a proposta de reabilitação do prédio da antiga Câmara Municipal prevê uma sala de triagem, uma reserva técnica e um laboratório, com uma entrada com rampas para atendimento de pessoas com deficiência.
No bloco de frente para a avenida Sete de Setembro serão instaladas duas salas para extroversão no lado leste e no lado oeste estará uma ampla sala para palestras e exibição de multimídias, uma sala de estudos, uma para monitoramento de câmeras e um guarda-volumes.
No bloco central de ligação das duas edificações, serão implantados uma loja para venda de souvenires, um café e uma pequena copa, além de banheiros. Parte das paredes das salas de exposição e de palestras vai deixar exposto o sistema construtivo, de alvenaria em pedras de mão tipo arenito Manaus.
No pátio interno de interligação dos blocos haverá uma área de contemplação. Os ambientes dedicados às exposições contêm duas salas interligadas formando um circuito. O espaço terá ainda sala de estudos, que terá máquinas com acesso à internet disponíveis para pesquisa e um acervo bibliográfico para consulta.
O prédio contará com laboratórios, além do restauro e da administração do Centro de Arqueologia de Manaus, e um mezanino como extensão à sala de estudos. Ao lado da sala de múltiplos usos destinada a projeções, palestras e diversas atividades culturais, haverá um espaço de transição, que além de abrigar gabinetes de estudo, acervo bibliográfico, abrigará um conjunto dedicado a pesquisa e estudo em grupos. No pátio central será feito tratamento acústico permitindo assim atividades expositivas e culturais bem como extensão dos serviços do café.
Texto – Cláudia Valle / Implurb
Fotos – Valdo Leão / Semcom