Grupo de pesquisadores estuda resistência de musgos, o que pode render matéria-prima para novos medicamentos
O desenvolvimento de novos medicamentos com potencial para combater o câncer pode sair de uma pesquisa realizada na Antártida por um grupo de cientistas do Distrito Federal. O projeto na área de biotecnologia, parte do Proantar (Programa Antártico Brasileiro), busca entender quais composições genéticas possibilitam que musgos sobrevivam em um ambiente hostil como o continente gelado.
As descobertas de moléculas podem se transformar em matéria-prima para a produção de novos medicamentos contra o câncer, antibióticos e produtos que ajudam no combate ao envelhecimento.
O estudo brasiliense (@briotech_ucb) é coordenado pelo professor do programa de pós-graduação em ciências genômicas e biotecnologia da UCB (Universidade Católica de Brasília), Marcelo Henrique Soller Ramada. Ele e outros quatro cientistas desembarcaram na Estação Comandante Ferraz, nas Ilhas Shetlands do Sul, em 4 de novembro do ano passado, quase dois anos depois da interrupção das atividades no local, causada pela pandemia de Covid-19.
O grupo iniciou estudos com vegetação do cerrado no começo de 2018 e avançou para musgos antárticos em 2019. Esta é a segunda vez que os cientistas brasilienses vão à Antártida para aperfeiçoar a pesquisa.
“Algumas espécies de musgo em especial dominam mais o ambiente que outras, elas parecem mais adaptadas às condições hostis. Existem micro-organismos aqui que atacam essas plantas, mas elas conseguem combater infecções que podem ser causadas por bactérias e fungos da região”, detalha Ramada, que ressalta: a Antártica é o local mais extremo e isolado do planeta, com as menores temperaturas já registradas, os maiores níveis de incidência de raios ultravioleta e as mais velozes rajadas de vento.
A pesquisa brasiliense é focada, principalmente, nas espécieis Sanionia uncinata e Polytrichastrum alpinum. Os musgos são parentes próximos das primeiras plantas a conquistarem o ambiente terrestre e, em geral, podem produzir uma complexidade maior de metabólitos do que outras plantas. “Queremos ver como seria essa aplicação para a saúde humana ou agricultura”, completa o professor.
Apesar de os primeiros resultados serem considerados promissores, Ramada ressalta que há um longo caminho entre o descobrimento de uma molécula e a utilização da substância nas indústrias.
“Já tivemos alguns resultados interessamtes de moléculas que podem ser usadas para estudos anticâncer e para doenças neurais. Só que esse processo é um pouco mais longo, tem muitas etapas a serem cumpridas ainda. Nessa vinda estamos coletando material para validar estudos que fizemos aqui em 2019”, detalha.
O Programa Antártico Brasileiro, criado em 1982, é coordenado pela Marinha do Brasil e envolve diversos ministérios (Defesa; Ciência, Tecnologia e Inovações; Meio Ambiente; e Relações Exteriores) e agências de fomento — CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). O programa se relaciona com vários países e com o Scientific Committee on Antarctic Research, um comitê internacional de pesquisa antártica, seguindo o disposto no Tratado Antártico e o Protocolo de Madri.
“Só a participação em tal programa já é um fato importante para a pesquisa do Distrito Federal. Além disso, a formação de profissionais capacitados e a possibilidade de realizar uma pesquisa em um local pouco acessível, para responder a perguntas nunca respondidas antes e buscar desenvolver novos medicamentos no futuro, são outras contribuições que a pesquisa traz ao DF”, ressalta o especialista.
O grupo deve voltar ao Brasil em 13 de fevereiro. As pesquisas continuam após o retorno dos cientistas, que devem analisar e processar os dados e material biológico coletado na Antártica.