Em Manaus, trabalhadores vêm sofrendo seguidos impactos pela escalada do preço dos combustíveis ao longo dos últimos três anos.
Com a gasolina a partir de R$ 7,29 em Manaus, motoristas de aplicativo sofreram mais um duro golpe financeiro com mais um aumento do custo do combustível. O impacto tem obrigado trabalhadores do setor a conciliar a atividade com outros serviços, trabalhar em horários alternativos e até mesmo renunciar ao ar-condicionado, como meio de economizar no consumo.
Motorista nessa modalidade há quatro anos, Gleyde Lima, 46, afirma que, antes da pandemia, bastavam seis horas regulares de trabalho para atingir a meta diária. “Hoje se trabalha de 12 a 16 horas e ainda não se consegue bater a meta, porque se gasta mais que a metade da renda em abastecimento”, revelou.
Alternativa acessível de trabalho para quem não consegue se firmar em outras áreas no mercado, a atuação vem sofrendo seguidos impactos pela escalada do preço dos combustíveis ao longo dos últimos três anos. Ainda assim, a aquisição de veículos em locadoras para este fim segue em alta, conforme apurou o TODA HORA em quatro estabelecimentos.
Gleyde observa que a diária do veículo custa em torno de R$ 70. “Aí o motorista está se vendo em apuros, porque ele tem que pagar a diária do carro, abastecer, levar comida para casa e, muitas das vezes, pagar o aluguel de onde mora. Imagina essa situação”, lamentou.
Também há quatro anos nessa função, Everton Elias, 41, fazia até 30 corridas por dia. Hoje, só trabalha de madrugada. A estratégia é evitar os horários mais quentes do dia para não usar o ar-condicionado. “Faço umas corridas até 7h, no máximo, para evitar usar o ar-condicionado, para que o cliente não me avalie mal. Com o ar, aumenta 20% o consumo do meu combustível e, no valor que está hoje, não tem condições”, explicou.
Durante o dia, Everton passou a trabalhar como auxiliar de refrigeração para complementar a renda. Ele tem veículo próprio e o aumento do custo o obrigou a refinanciar a dívida. “Tava um valor, aí veio a pandemia e não dava. Ficou difícil pagar”, disse. “O impacto foi muito grande. Ainda não desisti 100%, mas provavelmente uma boa parte do sistema vai parar”, previu.
Impactos
O presidente da Frente de Apoio Nacional ao Motorista Autônomo (Fanma), Paulo Xavier, afirmou que os trabalhadores selecionarão ainda mais as corridas daqui para frente. “Se a gente faz qualquer tipo de corrida, a gente tem prejuízo. Então será necessário um critério ainda melhor para escolher a corrida considerando o valor do km rodado”, comentou em entrevista ao TecMundo.
O representante explicou que, no início das operações dos apps no Brasil, o valor que os motoristas gastavam com combustível representava cerca de 20% do faturamento geral. Atualmente, metade do que eles conseguem com as corridas é destinado somente para o abastecimento do carro.
“O nosso custo principal é o combustível, porém temos outros custos como a manutenção do carro, como pneu e troca de óleo. Além disso, o custo de vida está bastante alto para todos os brasileiros de maneira geral. Arroz, feijão, carne, tudo subiu. Um carro popular há três anos era R$ 30 mil, hoje você não compra um carro por menos de R$ 70 mil”, explica Xavier.
Fonte: Redação TH