A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) em Belém, no Pará, marca um momento crucial para a integração da saúde humana na agenda climática global. Pela terceira vez, a saúde ganha espaço oficial na programação, com o “Dia da Saúde” destacando a interconexão entre a crise climática e o bem-estar populacional.
Como anfitrião, o Brasil busca liderar, apresentando experiências e soluções inovadoras. O principal destaque é o lançamento do Plano de Ação em Saúde de Belém, iniciativa do Ministério da Saúde para fortalecer a preparação dos países frente aos impactos ambientais. Instituições de referência também participam, trazendo estudos e propostas para adaptação e prevenção de problemas de saúde relacionados ao clima.
O Plano de Ação em Saúde de Belém, apresentado inicialmente na COP29, prioriza três linhas de ação: vigilância e monitoramento para identificar os impactos das mudanças climáticas; preparação dos sistemas de saúde e profissionais com informações baseadas em evidências; e pesquisa e inovação para soluções eficazes de mitigação e vigilância. Os países discutirão o plano e avaliarão a adesão às medidas propostas durante a COP30.
O setor privado também se une ao esforço. O Hospital Israelita Albert Einstein apresentará o MAIS (“Meio Ambiente e Impacto na Saúde”), uma plataforma que integra indicadores climáticos, de saúde e socioeconômicos, com previsão de disponibilização para uso amplo até 2027. A ferramenta cruza dados sobre temperatura, umidade, poluição do ar e ondas de calor com registros de doenças, internações e mortalidade nos 5.570 municípios brasileiros, com um histórico de três anos e mais de 100 milhões de registros.
A Fiocruz apresentará a Plataforma Cidacs-Clima, que conecta dados de saúde, sociais, ambientais e climáticos, reunindo informações de satélite, registros terrestres e dados sobre eventos climáticos extremos, investigando como políticas públicas e sociais podem mitigar os efeitos das adversidades climáticas. A instituição divulgou ainda uma Carta Aberta com 11 recomendações para a COP30, enfatizando que “a crise climática é, antes de tudo, uma crise de saúde”. O lançamento da Rede Saúde e Clima Brasil, uma parceria entre o Ministério da Saúde, a Fiocruz e outras instituições, visa fortalecer a ação coletiva diante das mudanças climáticas.
O Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, apresenta o Projeto Recomeçar, voltado para a saúde mental de comunidades afetadas pelas enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul. A iniciativa, em parceria com o Ministério da Saúde, busca atender cerca de 10 mil pessoas na sua primeira fase, adotando o protocolo “Enfrentando Problemas+”, da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), oferecendo encontros com ferramentas para lidar com o estresse, a ansiedade e o sofrimento emocional.
Além das iniciativas governamentais e institucionais, a sociedade civil se mobiliza. A Marcha Global Saúde e Clima, organizada pelo Movimento Médicos pelo Clima e o Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), reuniu médicos, cientistas, povos tradicionais e estudantes em Belém para destacar o papel da saúde nas discussões sobre a crise climática.
Apesar dos avanços, historicamente, menos de 2% dos financiamentos globais para medidas climáticas são destinados a projetos de saúde. A COP30 representa uma oportunidade para o Brasil impulsionar a integração da saúde na agenda climática global e construir um legado duradouro de ações concretas.
Fonte: saude.abril.com.br


