Empresa e campo de futebol em Manaus ‘estocam’ pneus ao ar livre e se tornam ambiente perfeito para proliferação do mosquito transmissor da dengue
Milhares de pneus se encontram amontoados no pátio de uma empresa localizada na avenida Rodrigo Otávio, Distrito Industrial I, próximo à Bola da Suframa, na Zona Sul de Manaus.
Em consulta pública ao site da Receita Federal, a empresa identificada pelo nome Amera S.A, sob o número de CNPJ 39.607.033/0001-30, tem como atividade econômica principal a fabricação de artefatos de borracha.
A empresa também atua na fabricação de laminados planos; tubulares de material plástico; embalagens de material plástico; coleta de resíduos não-perigosos; recuperação de materiais metálicos, exceto alumínio, comércio atacadista de embalagens; descontaminação e outros serviços de gestão de resíduos.
O que chama atenção é que apesar de parte dos pneus estarem cobertos por lonas, há uma grande parte que está descoberta. Este montante a céu aberto acaba se tornando um local ideal para criadouros do mosquito Aedes Aegpty.
A reportagem de A CRÍTICA procurou a empresa pelos números de telefone e emails cadastrados e não obteve retorno até a publicação desta matéria.
A reportagem também procurou a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) tendo em vista que a empresa é beneficiada com os incentivos administrativos concedidos pela autarquia vinculada ao Ministério da Economia, para mediar o contato com a empresa, mas também não obteve retorno.
Assim como também procurou a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia e Inovação do Amazonas (Sedecti-AM), por meio do Governo do Amazonas, pois conforme informado na placa da empresa, a secretaria apoia o empreendimento com os incentivos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Outro órgão procurado pela A CRÍTICA, foi o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas que realiza ações de monitoramento e concede licenças ambientais a empresas do Amazonas. A A CRÍTICA ainda aguarda o posicionamento dos órgãos citados.
Água parada em campo
Outro criadouro de mosquitos transmissores da dengue em potencial é o campo de futebol chamado “Campo do Jacaré”, localizado na Alameda Alphaville, bairro São José do Operário, Zona Leste de Manaus.
A equipe de reportagem foi até o local e constatou que há diversos pneus enfileirados ao redor do campo de futebol. Mas, há também outros pneus amontoados próximos ao campo.
Os moradores contaram que desconhecem a origem dos pneus, mas informaram que um grupo de pessoas, que jogam futebol todas as tardes no local, colocaram os pneus com o intuito de limitar a área, para que a bola não ultrapasse o campo e fosse para a rua. Os pneus, ainda segundo os moradores, foram colocados no campo há pelo menos dois meses.
Áreas monitoradas
Em nota, a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-RCP) esclareceu que todas as secretarias municipais de saúde realizam periodicamente ações de educação em saúde e campanhas de mobilização social que estimulam a eliminação de depósitos de água parada, como também o Amazonas que dispõe de rede de Vigilância no Estado que segue sensível para suspeitas de caso de dengue, zika, febre amarela e chikungunya.
O órgão acrescentou, ainda, que as secretarias municipais de saúde, são responsáveis pelo combate a endemias em seus territórios e realizam o Levantamento Rápido de Índices para o Aedes aegypti (LIRAa), identificando os depósitos predominantes para proliferação do mosquito, como também realizam fiscalização de espaços de risco coletivo.
A reportagem solicitou posicionamento da Secretaria Municipal de Saúde de Manaus (Semsa) questionando quais as ações de vigilância que o órgão tem realizado na capital e aguarda posicionamento.
Em resposta, a secretaria informou que a empresa localizada na avenida Mandii, no Distrito Industrial, já recebeu a visita da equipe de Controle de Doenças Transmitidas por Vetores, e que é monitorada por uma equipe de controle vetorial do DISA Sul, que realiza a visita de controle de 15 em 15 dias, evitando a proliferação de mosquitos, foi informada de que os pneus inservíveis estão sendo triturados dentro da própria fábrica.
No caso do Campo do Jacaré, localizado no bairro São José Operário, a Semsa informou que a equipe do Disa Leste está fazendo trabalhos de borrifação de 15 em 15 dias como medida preventiva.
“A própria comunidade adotou o acúmulo de pneus em forma de parede de proteção para não estourar as bolas que são utilizadas no campinho e também para evitar acidentes com as crianças que utilizam o espaço”, acrescentou em nota.
Aumento de casos
De acordo com o médico infectologista Nelson Barbosa, o descarte incorreto de pneus pode acumular água parada, local onde armazenam milhões de larvas, tornando-se focos de proliferação do mosquito.
“Esse descarte incorreto acumula líquido e serve de criadouro para o mosquito da dengue. Por conta disso, pode sim, aumentar o número de infecções pelo vírus da dengue. E o risco ainda é maior neste período de chuvas na capital. A polícia ambiental pode coibir esse descarte incorreto. Hoje, temos em Manaus, várias indústrias que fazem a coleta desse lixo”, declarou o médico.
De janeiro até 8 de junho de 2023, o Amazonas registrou 9.806 casos de dengue, segundo dados da FVS-RCP. Além disso, foram notificadas 5 mortes pela doença
(Foto: Junio Matos)
Lucas Vasconcelos / @acritica