A conservadora Sanae Takaichi, do Partido Liberal Democrático (PLD), foi eleita nesta terça-feira (21) primeira-ministra do Japão, tornando-se a primeira mulher a ocupar o cargo no país.
Aos 64 anos, Takaichi obteve 237 votos na Câmara Baixa e 125 na Câmara Alta, garantindo maioria simples. Ela assume em meio a escândalos políticos e baixa confiança pública no PLD, que governa o Japão quase ininterruptamente há décadas.
Durante a campanha, Takaichi defendeu políticas mais rigorosas de imigração, incluindo a criação de um centro nacional de controle migratório, proposta que preocupa comunidades estrangeiras, especialmente os imigrantes brasileiros.
Em entrevista ao Asahi Shimbun, a nova premiê afirmou que o objetivo é “responder às preocupações da população sobre segurança e cultura”, negando motivações xenófobas. Críticos, no entanto, alertam que sua retórica pode reforçar discursos anti-imigração.
📊 Crescimento da população estrangeira
Segundo dados da Agência de Imigração do Japão, havia em junho de 2025 cerca de 3,96 milhões de estrangeiros no país — mais de 3% da população total, um aumento de 5% em relação ao ano anterior.
Os chineses lideram com 900 mil residentes, seguidos por vietnamitas (660 mil) e coreanos (409 mil). O Brasil ocupa a sétima posição, com 211 mil residentes.
Apesar do avanço na diversidade, imigrantes relatam discriminação no trabalho e na moradia. O engenheiro brasileiro Sakai, residente há nove anos, contou ter enfrentado recusas ao tentar alugar um imóvel. “Se os japoneses não mudarem essa mentalidade etnocêntrica, o país não avançará”, afirmou.
⚠️ Nacionalismo em ascensão
O discurso nacionalista ganhou força com o partido Sanseito, que defende o lema “Japan First”, inspirado em slogans de Donald Trump. Nas últimas eleições, o partido conquistou 14 das 125 cadeiras em disputa na Câmara Alta.
O Movimento Brasileiros Emigrados (MBE) e outras organizações emitiram um alerta sobre o crescimento de discursos xenófobos, sobretudo nas redes sociais.
Segundo o cofundador do MBE, Miguel Kamiunten, “mesmo após 30 anos da adesão do Japão à Convenção contra a Discriminação Racial, o discurso de ódio ainda é forte”.
Especialistas apontam que o endurecimento político contrasta com as necessidades econômicas do país, que enfrenta escassez de mão de obra. O governo prevê atrair 820 mil trabalhadores estrangeiros nos próximos cinco anos por meio do visto de habilidades específicas, criado em 2019.
O cientista político Masaya Hiyazaki alerta: “Sem a presença estratégica de estrangeiros, o Japão não conseguirá se sustentar demograficamente. É preciso evitar que a sociedade siga um caminho xenófobo.”
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