Sucuri-verde usa estratégia de ‘estrangulamento’ dos vasos sanguíneos dos animais; segunda maior cobra do mundo é encontrada com mais facilidade na Amazônia e no Pantanal.
Quem já assistiu ao filme “Anaconda”, produzido em 1997, pode jurar que as sucuris são cobras perigosíssimas e aterrorizantes. No entanto, basta ter acesso à informações simples para tirar essa imagem Hollywoodiana da cabeça e desmentir tradicionais ‘fake news’ envolvendo a espécie.
Começando pela falsa ideia de que existem indivíduos com mais de 10 ou 15 metros de comprimento.
“Apesar de ser a maior cobra do Brasil e a segunda maior do mundo – atrás apenas de uma piton da África; a maior sucuri-verde (Eunectes murinus) já registrada cientificamente tinha cerca de oito metros. Mesmo antes da internet, muitas pessoas inventavam histórias e até faziam montagens com fotografias de cobras gigante. Com os recursos da tecnologia essas invenções só foram aperfeiçoadas”, explica o biólogo Cláudio Machado, que desmente outros mitos típicos sobre a espécie.
“Ela não possui veneno, não é capaz de comer bois e vacas e muito menos pessoas. Além disso, não quebra os ossos das presas para se alimentar: a estratégia de caça por constrição na verdade resulta no ‘estrangulamento’ dos vasos sanguíneos dos animais, que acabam fazendo com que a presa fique sem oxigênio e morra”, disse.
As sucuris são da mesma família das jiboias e das cobras-papagaio, que também usam a estratégia de constrição para caçar
No cardápio da sucuri-verde estão mamíferos de pequeno e médio porte que costumam ficar próximos à água, como capivaras, antas e cervos; aves, lagartos e jacarés.
“As onças pintadas e pardas também podem ser presas da sucuri, assim como podem ser predadoras da cobra”, comenta Machado, que destaca as habilidades da espécie na água.
“Elas passam a maior parte do dia nos rios. O corpo adaptado permite que sejam ótimas nadadoras: além da musculatura adaptada que garante agilidade, os olhos e as narinas ficam na parte dorsal da cabeça, apropriadas para que a sucuri respire quase sem precisar tirar o corpo da água”, explica.
A palavra “sucuri” em tupi significa “aquela que morde rápido”
Sucuris do Brasil
Além da sucuri-verde, que ocorre principalmente na Amazônia e no Pantanal, o Brasil é casa para a sucuri-amarela (Eunectes notaeus), que também ocorre na Argentina e Paraguai, e para a Eunectes deschauenseei, tão rara e restrita ao norte do País que não possui nome popular.
As sucuris não correm risco de extinção, mas continuam sendo vítimas dos homens, na maior parte das vezes por conta dos tabus e das crendices acerca das espécies— Cláudio Machado, biólogo.
Fora a coloração, as sucuris-verde e amarela se distinguem pelo tamanho, sendo a amarela menor, com até 3,7 metros de comprimento; e pela área de ocorrência: a sucuri-amarela vive somente em áreas que inundam anualmente, em regiões próximas às fronteiras com a Argentina, Bolívia e Paraguai. Por isso, no Pantanal é mais comum observar essa espécie, mesmo que a verde ainda possa ser encontrada.
“A chance de observar sucuris varia de acordo com a época do ano. Por vezes elas ficam escondidas nos rios e evitam o ambiente terrestre, onde ficam mais vulneráveis. Já no período reprodutivo, quando os machos se aglomeram junto às fêmeas, há uma possibilidade maior de observá-las”, diz Cláudio.
Além desse ‘encontro tumultuado’ provocado por machos atrás das fêmeas, as características de reprodução são curiosas: vivíparas, geram de 20 a 40 filhotes por ninhada, durante aproximadamente sete meses. Eles nascem totalmente desenvolvidos e independentes.