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“Manas na Política” abre inscrições para formação inédita voltada a mulheres da Amazônia que querem transformar a política

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Projeto quer capacitar lideranças femininas para disputar espaços de poder, combater a violência política de gênero e fortalecer a democracia a partir da periferia

 

Com 51,45% de mulheres na cidade de Manaus, de acordo com o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a representatividade política feminina ainda é uma exceção. Na Câmara Municipal de Manaus, das 41 cadeiras disponíveis, apenas 3 são ocupadas por mulheres, nenhuma delas é indígena ou negra. Na Assembleia Legislativa do Amazonas, entre os 24 deputados estaduais, apenas 5 são mulheres, em um estado majoritariamente composto por população negra, ribeirinha, indígena e periférica. Esses números escancaram o abismo de gênero, raça e território que separa as mulheres amazônidas do poder institucional.

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É nesse cenário que surge o projeto “Manas na Política”, uma iniciativa de formação política gratuita e voltada exclusivamente para mulheres da região Norte, do Amazonas. As inscrições estão abertas de 13 a 30 de junho de 2025, e podem ser realizadas pelo link: https://bit.ly/formularioManas2025.

 

O projeto visa fortalecer, capacitar e proteger mulheres que querem disputar a política nos seus territórios, criando uma rede de formação, apoio mútuo e enfrentamento à violência política de gênero, uma realidade brutal enfrentada por mulheres que ousam entrar nos espaços de decisão.

 

“Ser mulher na política já é desafiador. Ser mulher preta, indígena, periférica e da Amazônia é ainda mais. A gente enfrenta silenciamento, falta de apoio, escassez de recursos, ataques virtuais, ameaças e muitas vezes não tem com quem contar. O ‘Manas na Política’ nasce para mudar essa lógica. Queremos que essas mulheres não apenas entrem na política, mas permaneçam, resistam e transformem os espaços que ocupam”, afirma a coordenadora do projeto, a produtora cultural e ativista Michelle Andrews.

 

Uma rede que nasce da urgência e da escuta

 

A iniciativa parte da escuta de mulheres ativistas, lideranças comunitárias e jovens interessadas em disputar espaços políticos, mas que enfrentam barreiras estruturais como a falta de formação, recursos e segurança. O projeto tem como objetivo formar 30 mulheres da região Norte, no estado do Amazonas, por meio de encontros online ao longo do mês de julho e uma imersão presencial de 4 a 7 de setembro. A programação inclui oficinas, rodas de conversa, simulações e a construção coletiva de um manifesto

 

A formação abrange temas como legislação eleitoral, financiamento de campanhas, liderança política, comunicação estratégica e protocolos de enfrentamento à violência política.

 

Além de capacitação, o projeto propõe a construção de uma rede sólida de apoio entre mulheres, um passo fundamental em um cenário político hostil, onde a violência de gênero e raça se tornou uma ferramenta recorrente de silenciamento e exclusão.

 

Sem representatividade

 

Manaus, a maior cidade da região Norte, nunca elegeu uma mulher negra ou indígena para a Câmara Municipal. E isso apesar do protagonismo histórico das mulheres nos movimentos comunitários, culturais, de saúde e educação. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que, nas eleições municipais de 2020, as mulheres representaram apenas 33% das candidaturas registradas em Manaus, e foram ainda menos entre os eleitos.

 

Apesar da Lei de Cotas (nº 9.504/1997), que estabelece um mínimo de 30% de candidaturas femininas por partido, muitas candidaturas são lançadas apenas para cumprir a cota, sem apoio real de estrutura e financiamento, o que configura candidaturas laranjas, uma prática ilegal e comum em todo o país.

 

A violência política de gênero, por sua vez, ganhou mais visibilidade com a aprovação da Lei nº 14.192/2021, que a criminaliza. Mesmo assim, a subnotificação de casos é enorme, especialmente quando se trata de mulheres indígenas e negras, que têm menos acesso a canais institucionais de denúncia e proteção.

 

Mais do que um projeto, um movimento

 

“A gente não quer apenas cumprir cotas, a gente quer disputar o poder. E mais: disputar a forma como o poder é exercido. Queremos uma política feita com afeto, com diálogo, com compromisso com os territórios e com a vida das mulheres da Amazônia. O ‘Manas na Política’ não é um curso, é uma rede, uma convocação para transformar o agora”, reforça Michelle.

 

A seleção priorizará mulheres negras, indígenas, trans, quilombolas, ribeirinhas, periféricas e mães, reconhecendo que essas identidades estão entre as que mais enfrentam barreiras e violências ao acessar a política institucional.

 

O projeto aposta em metodologias criativas e colaborativas, como rodas de conversa, laboratórios de ideias, simulações e entrevistas com mulheres já inseridas na política, garantindo um ambiente de aprendizagem horizontal, respeitoso e transformador.

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