Com recordes de cheia e seca cada vez maiores e desproporcionais, o EM TEMPO conversou com ambientalistas para trazer questões sobre os impactos destas mudanças no Amazonas
Uma pesquisa na região Norte do país, desde 2017, em 62 municípios, e coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), apontou que a região Nordeste do Amazonas poderá apresentar aumento de 5°C graus na temperatura, e redução de até 25% no volume de chuvas nos próximos 25 anos. O EM TEMPO, em entrevista exclusiva, conversa com ambientalistas para entender como as mudanças climáticas obrigam os amazonenses a lidar com essa nova realidade.
Segundo o ambientalista Lucas Ferrante, nas últimas décadas tem-se observado dois polos climáticos na Amazônia, onde a porção norte da bacia amazônica tem registrado um aumento nas chuvas, e na regiões Sul e Leste do bioma, áreas do arco do desmatamento, observa-se uma concentração de anomalias climáticas, junto com a perda de umidade causadas pelo desmatamento.
“Sendo assim, as alterações climáticas na Amazônia tem fomentado um aumento de chuvas no Norte do bioma e o aumento da duração da estação seca, principalmente pelo atraso no início da estação chuvosa, no sul da bacia amazônica nas últimas décadas”, afirma.
Estas alterações não ocorreram de forma tão rápida, conforme o ambientalista Carlos Durigan. Ele relata que, nas últimas décadas, diversos estudos têm demonstrado o aumento da temperatura média do planeta, através da leitura de dados climáticos coletados desde o fim do século 19. Este aumento vem sendo monitorado e relatado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPPC), que alerta sobre as consequências deste aumento.
“Dentre muitas consequências, se destacam as mudanças ocorridas nas últimas décadas que influenciam os regimes de chuvas e secas e de grandes variações de temperaturas já sentidos e registrados em várias regiões. No nosso caso, aqui na Amazônia, temos testemunhado momentos extremos tanto de excesso quanto escassez de chuvas que acabam por influenciar no regime de cheias e vazantes dos rios,” explica Durigan.
Estas consequências já são sentidas pela população. De acordo com dados do Porto de Manaus, em 2022, o rio Negro atingiu 29,70 metros, aproximando-se da cheia histórica de 2021, a maior em 119 anos. Carlos também fala sobre esta medição realizada pelo Porto.
“Só para se ter uma ideia, o nível do Rio Negro é medido diariamente no Porto de Manaus desde 1902. Períodos de extremos aconteceram neste período de 120 anos, mas temos testemunhado um aumento de eventos extremos nas últimas décadas. Os dados mostram que de 1990 a 2022, tivemos 11 grandes cheias que ultrapassaram a cota de emergência estabelecida pelo CPRM para o rio Negro em Manaus em um período de 32 anos. Sendo que apenas sete outros registros acima desta medida se deram num período de 87 anos, de 1902 a 1989”, explica.
E, para a sociedade amazonense, esta adaptação está sendo árdua, segundo Ferrante. Ele ressalta que a Amazônia está perto do limite de desmatamento tolerado, e que o arco do desmatamento, que vai até a Amazônia central, tende a intensificar esses eventos climáticos.
“A Amazônia precisa adotar uma política forte de combate as mudanças climáticas, perpassando pelo desmatamento zero. Efeitos como aumento de até 6 graus para a Amazônia central, incluindo Manaus são esperados até o final do século se não frearmos as mudanças climáticas”, completa.
Fonte: Em Tempo