É possível, através da vigilância ativa (acompanhamento), determinar quais tumores podem ou não evoluir de forma mais agressiva após o diagnóstico
O ‘Novembro Azul’ se aproxima e a campanha ganhou força, este ano, com a discussão técnica em torno da metodologia de rastreio do câncer de próstata, que no Brasil e no Estado, é o segundo de maior incidência na população masculina e também uma das principais causas de morte por câncer no País. Presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), seccional Amazonas, o cirurgião uro-oncologista Giuseppe Figliuolo, destaca que o grande desafio que se impõe, especialmente nas regiões mais isoladas, é detecção precoce dos tumores potencialmente mais agressivos, para o tratamento precoce, e a implantação de uma rede que assegure aos portadores dos cânceres indolentes (de crescimento mais lento), um acompanhamento adequado através de vigilância ativa.
“O acompanhamento garante os check ups periódicos e uma atuação médica mais incisiva para frear a evolução de tumores que, por ventura, apresentem alguma alteração significativa ao longo do seguimento desses pacientes. Assim, salva-se vidas, ao mesmo tempo que se reduz o custo terapêutico. Isso porque, pacientes com doença avançada, além de terem menos chances de cura, necessitam de medicamentos e abordagens mais caras”, frisou Figliuolo.
Ele também garante que é possível, através da vigilância ativa (acompanhamento), determinar quais tumores podem ou não evoluir de forma mais agressiva após o diagnóstico. E lembra que um estudo, desenvolvido atualmente no âmbito da FCecon (Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas) e o Ministério da Saúde, e que tem sua participação, traz exatamente essa proposta.
Doutor em Saúde Pública e com mais de 20 anos de atuação em uro-oncologia no SUS (Sistema Único de Saúde), Figliuolo destaca que o diagnóstico precoce tem várias funções. A principal delas, é aumentar as chances de cura do paciente. “A doença localizada, ou seja, diagnosticada apenas na próstata, tem um tratamento mais rápido e prático, podendo ser cirúrgico ou associado à radioterapia e quimioterapia. Já a doença metastática, aquela caracterizada pela doença disseminada para outros órgãos, exige uma abordagem mais ampla, demorada, que pode incluir várias cirurgias e, nos casos mais avançados, sem a eficácia esperada ao paciente”, disse.
Estudo reforça a importância do rastreio
Uma nota técnica emitida em outubro deste ano, pela SBU, ao Conselho Federal de Medicina, reforça a importância do rastreio como peça-chave para reduzir as mortes por câncer de próstata. Ela também destaca que um dos principais estudos sobre o tema, o European Randomized Study of Screening for Prostate Cancer (ERSPC), apontou, em 2023, após 21 anos de acompanhamento, a redução significativa na mortalidade câncer específica na ordem de 27% com o rastreamento feito baseado em PSA (dosagem feita a partir da análise sanguínea), em homens assintomáticos de 55 a 74 anos.
A análise, classificada como uma das mais robustas no campo da urologia, revela a necessidade de uma abordagem voltada ao diagnóstico precoce. Atualmente, a recomendação é que o rastreio do câncer de próstata seja iniciado a partir dos 50 anos. Apenas pessoas com histórico da doença na família e da raça negra, além de grupos específicos de risco, são orientados a dar início aos exames de rotina a partir dos 45 anos.
Diagnóstico
Médico da Urocentro Manaus, Giuseppe Figliuolo destaca que o diagnóstico também evoluiu, ao longo dos anos, incluindo, por exemplo, o suporte da Ressonância Magnética antes da biópsia da próstata. “Nem todo homem com suspeita de alteração na próstata, precisa ser submetido à biópsia para análise patológica. Mas, os que precisam, agora contam com o exame de imagem para tornar a abordagem mais precisa”, explica.
A biópsia é a retirada cirúrgica de fragmento da próstata, que é encaminhado à Análise Patológica, a qual determina se eventuais lesões são ou não cancerígenas e o tipo de câncer. Só através dela é escolhido o tratamento a ser utilizado.
Ainda sobre a nota técnica emitida pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), Figliuolo reforça trecho que diz o seguinte: “Além de fortalecer a promoção da saúde e a prevenção, para o controle do câncer de próstata é fundamental organizar a rede de atenção à saúde para o diagnóstico precoce, com a investigação célere dos casos suspeitos e o início do tratamento adequado, com disseminação de informações voltadas à população e aos profissionais de saúde”.
“É preciso que o rastreio para o diagnóstico seja iniciado na atenção primária, com uma rede de especialistas que, a exemplo do que tem ocorrido com a população feminina, assegure consultas e exames em tempo hábil. A especialidade de urologia é uma bússola capaz de direcionar os homens ao caminho da cura. Mas, para isso, precisa estar presente em todas as esferas da saúde. Não apenas na ponta, fornecendo tratamento, quando o diagnóstico, porventura, ocorrer de forma tardia. Essa discussão tem ocorrido, há alguns anos, com os agentes envolvidos na rede de atenção básica e a tendência é que ela avance com o fortalecimento das campanhas informativas e educativas”, frisou Giuseppe Figliuolo.
(Foto: Reprodução)
Fonte: acritica