O atendimento a pessoas com doença falciforme na Atenção Primária à Saúde (APS) foi tema do evento realizado pela Prefeitura de Manaus, nesta quarta-feira, 14/6, no auditório do Centro Universitário do Norte (UniNorte), no bairro Cidade Nova, zona Norte. A iniciativa, voltada a profissionais de saúde bucal e realizada em referência ao Dia Mundial de Conscientização sobre Doença Falciforme, no dia 19 de junho, visa aprimorar o atendimento a usuários com essa condição na rede básica.
Realizado pela Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), por meio do Núcleo de Ações Estratégicas do Distrito de Saúde (Disa) Norte, em parceria com os programas de Saúde Bucal e Saúde da População Negra da pasta, o encontro promoveu palestras para odontólogos, auxiliares e técnicos de saúde do Disa Norte. Ao todo, 150 profissionais participaram do evento.
A diretora do Disa Norte, Paola Oliveira, explica que as pessoas com a doença falciforme são mais suscetíveis a problemas de saúde bucal, daí a importância de sensibilizar os profissionais da área para o atendimento a essa população na atenção básica.
Segundo a gestora, o Disa Norte tem 29 casos identificados de pacientes com a doença, que são referenciados para a Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam).
“Quando atuamos nessa área dentro do Distrito, isso fortalece a atenção primária. Deixamos de encaminhar para o centro de referência porque temos condições de tratar aqui”, aponta.
A chefe do Núcleo de Ações Estratégicas do Disa Norte, Aline Artini, enfatiza que o Distrito vem realizando ações de sensibilização sobre a doença falciforme para os profissionais de saúde bucal desde 2019, de forma a aperfeiçoar o atendimento a esse público.
“Queremos facilitar o acesso desses pacientes aos serviços de saúde bucal, visto que muitos não têm condição de ir ao Hemoam. Como atenção primária, podemos dar suporte nesse atendimento”, afirma.
Palestras
A programação do evento teve palestras com foco no manejo clínico-odontológico de pacientes com doença falciforme na Atenção Primária, e na atualização dos fluxos de encaminhamento aos Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs), gerenciados pela Semsa.
Palestrante do encontro, o cirurgião-dentista da Fundação Hemoam, Cleber Nunes Alexandre, destacou que, dentro do grupo das doenças falciformes, a anemia falciforme é a mais recorrente no Amazonas e uma das mais passíveis de causar complicações.
“O cirurgião-dentista tem que estar capacitado a identificar essas complicações para melhorar a qualidade de vida do paciente, dando o atendimento odontológico adequado para ele”, disse Cleber, assinalando que esse atendimento pode abranger desde procedimentos preventivos até outros mais invasivos, como a extração dentária.
“O objetivo é mostrar aos cirurgiões-dentistas que o paciente com doença falciforme também pode ser atendido nas Unidades Básicas de Saúde e não somente nos centros de referência”, complementou.
Entre os participantes do evento esteve a cirurgiã-dentista Nara Munik, residente na Unidade Básica de Saúde (UBS) Sálvio Belota, situada no bairro Santa Etelvina. Ela ressaltou tanto a oportunidade de atualização profissional como de fortalecimento dos serviços da atenção básica.
“Foi muito importante, para me deixar mais segura para acolher esses pacientes e realizar os procedimentos básicos que temos condições de realizar nas nossas UBSs. Assim compartilhamos a atenção a esses usuários junto com a alta complexidade, melhorando o acesso deles aos atendimentos básicos e o acolhimento nas nossas unidades”.
O evento teve ainda palestras com os cirurgiões-dentistas do CEO Norte, Cristiano Cardoso Behring e Mauro Luiz Barros; e a técnica de Saúde Bucal do Disa Norte, a cirurgiã-dentista Ellen Cristina Costa, que abordou os critérios de encaminhamento para o CEO Norte.
Origem genética
A doença falciforme é uma doença genética, hereditária, caracterizada por alterações nos glóbulos vermelhos, dificultando a passagem de oxigênio para os órgãos. Se não tratada, pode causar anemia crônica, crises dolorosas, retardo no crescimento, infartos, acidentes vasculares cerebrais, entre outras complicações.
Estimativas apontam que, no Brasil, surgem a cada ano cerca de três mil novos casos da doença, que é mais comum em pessoas da raça negra, mas pode ocorrer também em pessoas de raça branca ou parda, em razão da intensa miscigenação no país.
O diagnóstico é feito na triagem neonatal, com o teste do pezinho. O tratamento requer acompanhamento médico por toda a vida, baseado num programa de atenção integral e envolvendo profissionais de saúde de diversas áreas.
Texto – Jony Clay Borges / Semsa
Fotos – Graziela Praia / Semsa