Com o objetivo de fortalecer o acesso e o atendimento de pacientes diagnosticados com hanseníase, a Prefeitura de Manaus iniciou um processo de capacitação dos fisioterapeutas que atuam na Secretaria Municipal de Saúde (Semsa).
Uma das estratégias é a realização do curso básico em “Hanseníase e Prevenção de Incapacidades”, com a primeira fase encerrada nesta sexta-feira, 13/8, no auditório do Complexo de Saúde Oeste, no bairro da Paz, direcionado para fisioterapeutas das Unidades Básicas de Saúde (UBSs), Núcleos Ampliados de Saúde da Família (Nasfs), Policlínicas e do Centro Especializado em Reabilitação (CER), além das equipes técnicas dos Distritos de Saúde (Disas) Oeste, Norte, Sul e Leste.
A chefe do Núcleo de Controle da Hanseníase da Semsa, enfermeira Ingrid Simone Alves dos Santos, explica que a doença, além de atingir a pele, causa danos aos nervos periféricos (pés, mãos e olhos) e pode ocasionar lesões neurais com grau de incapacidade física irreversível, que são responsáveis pelas deformidades que o paciente desenvolve com a doença, por falta de detecção precoce.
“O tratamento da hanseníase tem suas especificidades e é necessário alinhar e fortalecer cada dia mais o atendimento em toda a rede de saúde, o que inclui o trabalho dos fisioterapeutas. Hoje, em 2021, 14,55% dos pacientes avaliados são diagnosticados já apresentando grau 2 de incapacidade, o que significa que é uma situação irreversível. São pacientes que precisam de atendimento com o fisioterapeuta e o curso básico em hanseníase é uma forma de fortalecer as habilidades desse profissional na condução do paciente durante o tratamento”, informa.
O atendimento com o fisioterapeuta é realizado na rede municipal a partir de encaminhamento das unidades de saúde, com o paciente apresentando ou não algum grau de incapacidade física. “Além de cuidar da lesão de comprometimento dos olhos, mãos e pés, o fisioterapeuta orienta o paciente para o autocuidado na prevenção de lesões”, ressalta Ingrid.
Ocorrências
Entre janeiro e 12 de agosto deste ano, Manaus registrou 61 casos novos de hanseníase, número 24,48% maior que o verificado no mesmo período do ano passado, sendo cinco casos em menores de 15 anos. O sistema de informação ainda registra mais 24 casos acompanhados este ano, que incluem pacientes que abandonaram e estão retomando o tratamento, pessoas em tratamento transferidos de outros Estados e municípios para atendimento na rede de saúde da capital.
“Para reduzir o risco de transmissão da doença, é essencial que os serviços de saúde mantenham a ampliação da oferta de exame de pele, para que identifiquem um maior número de casos em tempo oportuno, para evitar diagnóstico tardio. A primeira dose da medicação quebra a cadeia de transmissão e por esse motivo o diagnóstico precoce é importante para o controle da doença”, destaca Ingrid.
Curso
Os profissionais da Semsa foram divididos em duas turmas para participação do curso, com 27 fisioterapeutas, 13 enfermeiros, sete técnicos em enfermagem/dermatologia, um médico e dois terapeutas ocupacionais. A segunda etapa do curso será realizada entre 18 e 20/8, das 13h às 17h com atividades teóricas e práticas, incluindo a atualização aos profissionais sobre a Avaliação da Prevenção de Incapacidade Física, fundamental para o acompanhamento durante o tratamento.
Palestrante do curso, a enfermeira Maria Anete Queiroz de Morais, que também tem formação em fisioterapia, destaca que todos os profissionais de saúde devem ter atenção para a suspeita da hanseníase, principalmente porque os sintomas podem ser confundidos com os de outras doenças, como o reumatismo.
“É necessário que o paciente seja avaliado como um todo, de forma integral, no atendimento nos serviços de saúde. Em atendimento do exame preventivo na UBS, por exemplo, detectei um caso suspeito de hanseníase observando manchas na pele dos membros superiores da paciente, que já apresentava força diminuída na mão direita. O caso foi confirmado, mas se tivesse deixado passar a suspeita no exame do preventivo, a paciente teria evoluído para um comprometimento neural”, observa Maria Anete, que atua como enfermeira na UBS Nossa Senhora Auxiliadora, na zona rural de Manaus.
Para o fisioterapeuta Paulo André Chaves de Sousa, que integra a equipe de saúde da UBS Lindalva Damasceno, no bairro Tarumã, zona Oeste, o aprendizado no curso foi muito importante, considerando que nunca teve experiência no acompanhamento de um caso de hanseníase.
“O curso foi uma oportunidade de ampliar a nossa visão sobre a hanseníase, até mesmo sobre como abordar o paciente com suspeita da doença. A equipe de saúde da UBS vem atuando na comunidade Parque das Tribos e agora podemos levar esse aprendizado no atendimento aos moradores, ajudando na busca ativa de casos suspeitos e acompanhamento dos pacientes”, comenta.
Texto – Eurivânia Galúcio / Semsa
Fotos – Divulgação / Semsa