A Síndrome de Munchausen é um transtorno mental de alta complexidade. Você pode já ter ouvido falar dele em filmes e obras literárias. Embora tenha uma quantidade significativa de retratações midiáticas, a sua prevalência na população é muito pequena.
Devido às suas características, tanto o diagnóstico quanto o tratamento costumam ser mais complicados em comparação a outras condições. Ainda assim, não é impossível encontrar tratamento psicológico adequado para esse transtorno.
O que é Síndrome de Munchausen?
Também conhecida como Transtorno Factício Autoimposto ou Transtorno Factício Imposto a si mesmo, essa condição caracteriza-se pela falsificação de sintomas físicos ou psicológicos de maneira compulsiva e contínua.
Indivíduos com essa síndrome visitam diversos médicos e hospitais em busca de um diagnóstico, podendo modificar ligeiramente a sua história a cada encontro.
Esses indivíduos têm como motivação receber atenção e simpatia de terceiros por meio de tratamentos médicos. Ou seja, não se trata de uma ação desonesta visando receber um benefício econômico ou deliberadamente enganar outras pessoas.
A necessidade de falsificar sintomas está associada a problemas emocionais em diferentes níveis de gravidade. É comum a síndrome de Munchausen se manifestar concomitantemente com transtornos de personalidade, principalmente o de personalidade borderline.
Os indivíduos com Munchausen costumam ser inteligentes. Eles conseguem simular patologias ao ler manuais de diagnóstico e livros de medicina, além de terem um conhecimento avançado de práticas médicas.
Quais são os sintomas dessa síndrome?
A característica essencial para o diagnóstico do transtorno factício autoimposto é a falsificação de sintomas médicos ou psicológicos, mas outros sintomas também estão presentes, tais como:
- Comportamentos autodestrutivos;
- Incompatibilidade de histórias contadas;
- Conhecimento profundo de práticas e terminologias médicas;
- Presença de sintomas sem conexão com a patologia de base;
- Resposta ineficiente aos tratamentos;
- Vontade incomum de se submeter a exames e procedimentos médicos;
- Impedir que médicos conversem com familiares e amigos;
- Exagero dos sintomas quando na presença de outras pessoas;
- Ansiedade, carência afetiva, medo, teatralidade, entre outros sintomas psicológicos.
O diagnóstico costuma ser um desafio e exige atenção a detalhes que vão além dos sintomas, como análise do amplo histórico de saúde dos pacientes.
Por conta da indução a patologias, o paciente pode ter sofrido diversas internações e concluído tratamentos sem necessidade. As opiniões das pessoas que convivem com ele também tendem a confirmar o seu mal-estar contínuo, sem que haja levantamento de suspeitas.
O psicólogo ou médico precisa fazer uma investigação extensa da vida do paciente para chegar a um possível diagnóstico, como listar os lugares de internação e quantas vezes ela ocorreu, tratamentos já realizados e razões por ter mudado de médico ou instituição de saúde.
Como funciona a Síndrome de Munchausen?
Pessoas com transtorno factício autoimposto se queixam de dores e desconforto físico constantemente. Normalmente, contam histórias extensas sobre doenças que tiveram ao longo da vida e afirmam ter vários diagnósticos ao mesmo tempo.
Além de inventarem sintomas e histórias sobre a sua saúde precária, induzem sintomas físicos. A forma mais comum é mediante o uso de medicamentos que causam efeitos colaterais. Elas pesquisam que tipo de sintomas estão associados à determinada doença para ingerir os medicamentos certos.
A automutilação é outra forma de simular sintomas, doenças e ferimentos, como, por exemplo, quebrar ossos do corpo, fazer cortes na pele e usar agulhas para fazer perfurações.
Quando se consultam com médicos, sabem detalhes da patologia que afirmam ter e relatam experimentar sintomas variados. Porém, sintomas fundamentais para a realização de um diagnóstico costumam estar ausentes devido à dificuldade de simulação.
No caso de sintomas psicológicos, elas podem relatar experimentar sintomas de depressão, ansiedade ou qualquer outro transtorno mental após um acontecimento trágico que na verdade não aconteceu.
Assim, profissionais da saúde podem começar a duvidar da condição delas e fazer questionamentos mais pontuais. Quando percebem que podem ser descobertas, as pessoas com síndrome de Munchausen tendem a mudar de instituição de saúde e recomeçar a atuação.
Quem convive com elas começa a acreditar que possuem uma saúde frágil por sempre estarem doentes, tomando medicamentos e visitando médicos.
Dessa maneira, podem oferecer ajuda ou terem um comportamento mais leniente em relação a elas. No trabalho, por exemplo, chefes e colegas de trabalho podem fazer vista grossa para ausências e condutas inadequadas.
Qual é a relação com a Síndrome de Munchausen por Procuração?
Também conhecida como Transtorno Factício imposto ao outro, esta condição consiste na falsificação de sintomas físicos e psicológicos, bem como de doenças, em outro indivíduo. Geralmente, acontece quando mães infligem sintomas nos filhos.
A pessoa com a síndrome induz lesões ou doenças em outro indivíduo, apresentando-o como incapacitado, doente ou lesionado para os demais. Ela pode chegar a falsificar laudos médicos para confirmar a sua história.
A motivação é a mesma do transtorno factício: receber atenção e simpatia de profissionais da saúde, familiares, amigos, vizinhos e desconhecidos.
Neste caso, profissionais de saúde podem identificar os maus-tratos causados às crianças quando não encontram a causa para os sintomas que constantemente os levam de volta para o hospital.
Por exemplo, médicos podem tratar infecções auditivas recorrentes em um paciente e chegar a interná-lo em virtude da gravidade da infecção. No entanto, não conseguem encontrar a causa dos sintomas. Eventualmente, percebem que pode haver outro componente que influencia a condição de saúde da criança.
Um caso razoavelmente recente que recebeu muita atenção foi da norte-americana Gypsy Rose Blanchard cuja mãe, Dee Dee, relatou falsamente que a filha tinha deficiência física e possuía uma série de patologias. Gypsy foi submetida a cirurgias e tratamentos medicamentosos por conta disso.
Quais são as causas dessa condição?
Ainda não foram identificadas causas exatas para essa síndrome.
No entanto, sabe-se que ela possui correlação com transtornos de personalidade, principalmente os que se encontram em condições graves. Uma pessoa com sintomas graves de personalidade borderline ou histriônica, por exemplo, é mais suscetível a desenvolver essa condição.
Muitos pacientes também possuem depressão e já iniciaram pelo menos uma vez o tratamento para o transtorno, mas o abandonaram nos estágios iniciais.
Eventos de vida negativos ou traumáticos, como negligência na infância, abuso, acidente, desastre natural ou outras experiências estressantes, estão igualmente relacionados ao aparecimento da síndrome. Por outro lado, uma pessoa pode desenvolver essa condição sem ter tido grandes experiências negativas em sua vida.
De acordo com o DSM V, a prevalência desse transtorno factício é desconhecida, provavelmente em virtude da sua característica fraudulenta. Mas estima-se que cerca de 1% de pacientes em ambientes hospitalares apresentem sinais de Munchausen.
Como lidar com a Síndrome de Munchausen?
O tratamento do transtorno factício é feito através da terapia e, em casos graves, da internação de pacientes em instituições psiquiátricas uma vez que são ameaças a si mesmos.
A jornada para fazer a pessoa concordar que precisa de tratamento psicológico, contudo, pode ser desafiadora. Mesmo após iniciar a terapia, ela pode tentar abandoná-la diversas vezes, sempre usando as mesmas razões para justificar sua decisão.
É comum haver confrontação com entes queridos, amigos, cônjuge, psicólogos e médicos, bem como recusa em atender às demandas corretas do tratamento. Não é raro pacientes com Munchausen ficarem com raiva, entrarem em conflito com terceiros e usar isso como justificativa para mudar de médico ou hospital.
Ainda assim, os familiares, cônjuges e amigos íntimos têm papel fundamental no tratamento do paciente. Eles costumam ser os primeiros a notar algo errado nas suas histórias extravagantes e variadas e fazer questionamentos acerca da realidade de sua condição de saúde.
Quanto mais cedo os sintomas do transtorno forem reconhecidos, maiores são as chances de o paciente não se submeter a testes invasivos, procedimentos médicos, cirurgias e fármacos desnecessários.
Para evitar que a pessoa fique na defensiva ou reaja com a agressividade à sugestão de buscar atendimento médico ou psicólogo, pessoas próximas podem sugerir o tratamento sem exigir que ela reconheça o seu papel no aparecimento de suas patologias.
Elas podem, ainda, discorrer sobre como é útil que o paciente, psicólogo e médico trabalhem em conjunto para resolver os problemas de saúde dela, comprando a sua narrativa de enfermo. Após o indivíduo ter a sua primeira consulta, podem conversar com os profissionais de saúde sobre as suas preocupações e suspeitas.
Terapia é fundamental!
O tratamento para a saúde mental é fundamental dado que o transtorno factício possui raízes emocionais e psicológicas. Como a sua identificação é complicada, não há um consenso sobre a melhor abordagem psicológica para tratá-lo.
Ainda assim, buscar terapia é o melhor a se fazer para o bem-estar físico e psicológico do paciente, bem como a sua segurança. Se o transtorno não for tratado, a pessoa pode tanto se ferir gravemente quanto danificar a sua saúde em razão da realização de constantes procedimentos desnecessários.
Por causa da relutância, pode ser necessário levá-la à terapia diversas vezes até que ela concorde em, enfim, fazer as consultas sem lutar contra o psicólogo. Recaídas também são esperadas ao longo da terapia. Familiares precisam ter paciência enquanto assistem a pessoa com síndrome de Munchausen durante seu processo de cura.
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Fonte: Blog da Saúde