Avaliação é do secretário municipal, que detalha meta de escrever plano de ação climática neste ano
O Secretário municipal de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Mudança do Clima (Semmasclima), Antônio Stroski, afirmou para A CRÍTICA que Manaus não está preparada para os efeitos da já existente emergência climática. Por outro lado, segundo ele, a gestão municipal atua para que a cidade esteja pronta para os impactos da mudança do clima, que são sentidos, hoje.
“[Manaus] não está pronta. Nós temos que preparar Manaus. É essa a perspectiva que a gente vem discutindo com atenção em relação às mudanças climáticas”, avalia o gestor.
De acordo com ele, o Comitê Municipal de Mudanças Climáticas, criado no ano passado pelo prefeito David Almeida (Avante), deve ter uma reunião em fevereiro, após o Carnaval, para tratar da agenda. “Nossa meta para este ano é escrever o Plano de Ação Climática de Manaus”, pontua.
Segundo levantamento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) apresentado no dia 17 de janeiro, Manaus foi a cidade com mais ocorrências de desastres naturais em 2023, com 23 ocorrências. Já em relação aos alertas de desastre emitidos por municípios, a cidade fica em terceiro lugar, com 49 alertas.
Na visão do secretário de Meio Ambiente e Mudança do Clima, o planejamento da cidade deve ser realizado de forma preventiva, reunindo instituições de pesquisa. Ele critica uma visão limitada a apenas responder às ocorrências, sem o fator preventivo.
“Nós podemos tratar a questão das enchentes, das alagações de forma a ficar sempre correndo para atender as emergências, aí teria que planejar, identificar muito bem as áreas passíveis. É fazer plano, a gente tem que se organizar para coletar informações, envolver a academia e atuar preventivamente. Esse é o desafio, mas ainda não temos isso”, disse Stroski.
Relação
Diretora do Cemaden, Regina Alvalá, durante a apresentação dos novos dados, explicou haver influência das mudanças climáticas no aumento dos casos de desastres naturais. “A mudança do clima também contribuiu para todo esse processo. O oceano mais quente significa mais vapor de água na atmosfera, o que, por consequência, provoca chuvas intensas e concentradas”, disse.
Ela também destacou o fenômeno El Niño como fator fundamental para o aumento das ocorências do ano passado. “O ano de 2023 foi peculiar em relação ao clima. Em meados do ano, houve uma transição rápida do fenômeno La Niña para o El Niño. Isso ocasionou uma mudança no padrão das chuvas em relação à média histórica. Os índices de chuva registrados em 2023 foram muito superiores no Sul e inferiores no Norte e Nordeste”.
Seca é exemplo
Entre os recentes fenômenos extremos ligados ao clima, estão presentes os chamados desastres naturais ou sociais. É o caso da seca histórica que afetou o Amazonas no ano passado. O rio Negro, que banha Manaus, chegou a atingir a marca de 12,70 metros, seu menor nível já registrado.
Recentemente, um estudo publicado pela World Weather Attribution (WWA) mostrou que as mudanças climáticas foram as principais responsáveis pela seca que atingiu a Amazônia. O cenário gerou isolamento de comunidades, falta de água potável e suprimentos na região rural de Manaus e em outras cidades da região.
A comunidade Nossa Senhora do Livramento, localizada às margens do rio do Tarumã-Mirim, que desagua no rio Negro, teve mais de 350 famílias tendo que lidar com a escassez de alimentos, especialmente pela população idosa. Houve ainda dificuldades no trajeto para acesso à comunidade e até seca de poços artesianos.
Além da seca histórica, a capital amazonense também teve que lidar com ondas de calor extremas durante o chamado ‘verão amazônico’. Manaus chegou a alcançar a temperatura de 39,2ºC, às 15h do dia 2 de outubro, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Manaus teve 1,7 mil ocorrências
Dados da Defesa Civil de Manaus apontam que, somente no ano passado, 1.716 ocorrências foram registradas na capital. O maior número é de deslizamentos de terra: 556. Em um destes casos, no dia 13 de março, um desbarracamento devido a uma forte chuva acabou destruindo 11 casas e deixando oito vítimas. O caso aconteceu na rua Pinto D’Água, bairro Jorge Teixeira, Zona Leste da cidade.
Os casos de alagamento ficam em segundo lugar, atingindo o número de 546 ocorrências. Houve ainda 287 desabamentos e tombamentos, 166 erosões e 161 rachaduras. A Defesa Civil tem mapeadas 927 regiões com risco de deslizamento, desabamento ou tombamento.
“Manaus é uma cidade que convive com problemas estruturais há décadas, resultado de um crescimento rápido e desordenado. Instrumentos de gestão como Plano Diretor, leis e normas que também direcionam melhores práticas voltadas a gestão do espaço e ações de planejamento, até existem, mas são muitas vezes relegados a segundo plano”, opina o conselheiro regional para América do Sul da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e diretor nacional da Wildlife Conservation Society (WCS Brasil), Carlos Durigan.
Segundo ele, as ações acabam sendo para remediar situações de tragédia e não para prevenção amenização dos efeitos das ocorrências. “ Em paralelo, a capacidade de lidar com imprevistos e desastres não se fortalece ao nível necessário, seja por vontade política, seja por falta de recursos”, diz.
Arborização é destaque em plano
Entre as medidas que devem ser inseridas no Plano de Ação Climática de Manaus, o secretário citou ações de revitalização de igarapés e um projeto de execução a longo prazo, mas “com ações de tempo curto”, que deve ser anunciado pelo prefeito David Almeida futuramente.
“A gente considera como um dos eixos centrais da intervenção da questão de clima a arborização, revitalização de áreas verdes, o estabelecimento de parques urbanos. A questão de moradia também, como a questão das hortas urbanas que a gente está começando. Isso se encaixa na questão socioambiental para até mesmo contribuir na melhoria da alimentação das pessoas”, disse o secretário.
Antônio ainda ressaltou que a prefeitura pretende realizar uma ação para incentivar a mudança do uso de fogo para limpeza de terrnos por uma solução mais sustentável.
“Nós vamos fazer uma ação de combate ao uso do fogo dentro do município de Manaus para substituir por tecnologia recomendada pela Embrapa, do preparo do solo para atividade agrícola”, disse.
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Geógrafo explica o que são desastres naturais
O conceito do termo ‘desastres naturais’ gera de debate na geografia. É o que afirma o professor de Geografia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e doutorando em Geografia Humana (USP), Thiago Oliveira Neto. “Acontecimentos como alagamentos, deslizamentos e tempestades são considerados como desastres naturais, ocasionando impactos sociais quando existem moradias. Mas, alguns geógrafos chamam atenção para isso, pois os desastres não são tão naturais assim, já que dinâmicas econômicas impulsionaram as ocupações em área de risco para alagamento ou deslizamento”, avalia o geógrafo.
(Foto: Márcio Silva)
Fonte: acritica