No mês de setembro, em que a conscientização sobre a prevenção do suicídio e a saúde mental ganha destaque, é impossível não relacionar esses temas com o espaço urbano e arquitetônico. Para a arquiteta e urbanista Melissa Toledo, mãe e profissional com uma visão apurada sobre os impactos do ambiente nas emoções, a cidade é parte fundamental desse diálogo.
Melissa explica que a pandemia de 2020 trouxe à tona debates sobre qualidade de vida e saúde mental nas cidades, revelando a importância de áreas verdes, espaços de convivência e o papel da arquitetura nesse cenário. “Cidades com espaços verdes, praças públicas e jardins oferecem benefícios diretos à saúde mental. Isso não é só uma impressão, é respaldado por pesquisas, como as da Universidade do Texas, que mostram como esses elementos contribuem para o bem-estar das pessoas”, destaca.
Essa relação entre cidade e saúde mental se torna ainda mais evidente em estudos que apontam como o estresse urbano — causado por fatores como poluição, superlotação e congestionamentos — pode ser prejudicial. Melissa fala sobre o impacto desse “estresse ambiental”, que está sempre presente na vida das pessoas que vivem nas grandes cidades. “A arquitetura e o urbanismo podem afetar a saúde mental de forma positiva ou negativa. O ambiente em que vivemos influencia diretamente a maneira como lidamos com as exigências do dia a dia”, afirma.
Com a pandemia, surgiu também a necessidade de se repensar os ambientes domésticos. Segundo Melissa, a busca por casas maiores ou apartamentos com áreas externas aumentou, refletindo a urgência de ambientes mais adequados para conciliar trabalho, vida pessoal e bem-estar. “A pandemia escancarou a importância de um bom projeto arquitetônico e de um espaço que permita a convivência familiar saudável. Estar confinado em pequenos apartamentos, com poucas opções de interação social externa, teve impactos diretos na saúde mental das pessoas.”
Melissa destaca que o Brasil, um dos países com maior índice de transtornos mentais, viu um aumento de casos de depressão e ansiedade nos últimos anos. “A pandemia foi um divisor de águas, mas esses transtornos já estavam presentes. O que vimos foi uma amplificação da questão, tanto pela dificuldade de separação entre vida pessoal e profissional no home office quanto pela falta de estrutura adequada nas cidades para promover o bem-estar mental.”
Como urbanista, Melissa Toledo defende um planejamento urbano que valorize o bem-estar da população, com a criação de mais áreas verdes e espaços de convivência, como parques e praças. “O Parque dos Gigantes, em Manaus, é um exemplo de sucesso. Mesmo estando no coração da Amazônia, ainda carecemos de mais oásis urbanos que promovam uma qualidade de vida melhor para a população”, finaliza.
Em tempos de Setembro Amarelo, a reflexão sobre como a cidade afeta nossa saúde mental é mais urgente do que nunca. A necessidade de ambientes acolhedores e pensados para o bem-estar não é apenas uma questão de conforto, mas também de saúde.