No evento, que aconteceu nesta sexta (23), o professor de Sociologia Jonas Carvalho, do povo Kaixana, abordou a importância do ‘letramento indígena’ do mercado publicitário
Construir um mercado publicitário mais representativo, diverso e inclusivo. Essa é a missão do Comitê de Diversidade e Inclusão, o SACI – sigla para Somos Ação e Conexão Inclusiva, lançado na sexta-feira (23) pela Varanda Multiagência.
O lançamento foi marcado pela palestra do professor de Sociologia Jonas Carvalho, Indígena do povo Kaixana, que falou sobre a importância do letramento indígena no mercado publicitário e o impacto do marco temporal sobre a representatividade dos povos originários nos mais diversos espaços, entre eles a publicidade, para uma plateia formada por colaboradores e clientes da agência.
Essa foi a primeira ação do SACI, que pretende promover debates e trocas construtivas entre diferentes segmentos da sociedade e profissionais ligados à publicidade. O letramento do público interno e externo do mercado publicitário sobre temas como diversidade e inclusão está entre os principais objetivos do SACI, explicou um dos membros do Comitê, o Head de Publicidade da Varanda, Luan Rangel.
“O papel do SACI é esse, de trazer pautas essenciais para serem discutidas, auxiliando e promovendo ações que trarão reflexões importantíssimas não só para o mercado, mas para a construção de uma sociedade mais diversa e inclusiva, de fato”, disse Luan.
Também integrante do SACI, a profissional de Letras e revisora na Varanda, Jéssica Dandara, lembra que a ideia nasceu da iniciativa dos próprios colaboradores da agência. Ela destaca a importância de ações como esta para a construção de um mercado publicitário mais diverso e inclusivo, que reflita a nossa sociedade, e a desconstrução de estereótipos e práticas segregadoras.
“Para o objetivo de fazer o caminho contrário, de não minorizar as pessoas, é que essa iniciativa de criar o Comitê SACI, é importante. O comitê vem para avançarmos ainda mais nessa discussão, nessa perspectiva das questões de raça, gênero, PCDs, sexualidade, etarismo, inclusão e diversidade, que é uma prática já presente na Varanda há bastante tempo, e agora ganha ainda mais peso.”
Para o publicitário Patrick Vidal, que também faz parte do SACI, o impacto que as ações promovidas podem ter na sociedade foi um dos fatores que o inspirou a integrar o comitê. “Fornecer iniciativas que possam auxiliar, por exemplo, quem não tem acesso a um ambiente que proporcione um conhecimento ou oportunidade rica, já é uma vitória. O Patrick de 20 anos, preto, cria de mãe solteira e industriária, morador da Manaus 2000 no Distrito, pensava que nunca alcançaria certos lugares por falta de chances como essa. E o que mais tem são Patricks por aí, e é por isso que entrei para o SACI”, declarou.
Para ele, iniciativas como a do comitê fazem parte uma mudança “de dentro pra fora”, ou seja, de dentro do mercado, com profissionais de toda a cadeia conscientes dessa importância, buscando letramento e incorporando ações de Diversidade & Inclusão nos seus cronogramas, e para fora dele, com os consumidores se identificando cada vez mais com marcas que pensam no amanhã. “Há um tempo nós, da Varanda, estamos envolvidos diretamente com trabalhos que buscam impacto de verdade. Acredito que seja esse o caminho, não só lançar luz e alarmar o que precisa ser alarmado, mas também trazer nossos iguais para a publicidade”, disse Patrick.
A supervisora de atendimento do Grupo Tvlar, Silvana Gomes, avaliou como positiva a iniciativa do Comitê SACI, de promover encontros para debater sobre diversidade e inclusão. “É muito importante falarmos sobre isso, a Tvlar vê isso de uma forma muito positiva. É uma busca por uma transformação interna e externa, entre os colaboradores, mas também que chegue aos nossos públicos, de forma que não seja só mais uma prática de mercado, como uma ação pontual, mas que todos abracem essas iniciativas para que a gente possa criar uma cultura”, avaliou.
Ressignificar a representatividade
Para o professor e palestrante Jonas Carvalho, a publicidade se inspira na sociedade e na cultura para criar um produto, e tem o poder de significar e ressignificar imagens, valores e práticas, contribuindo para uma correção histórica da imagem estereotipada das populações indígenas que foi criada e reproduzida ao longo das décadas.
“Esse estereótipo do indígena, sempre em uma canoa, na floresta, com cocar, não reflete a realidade do ser indígena em todos os espaços que ele ocupa, seja nas aldeias ou nas cidades. Há uma necessidade histórica de correção dessa imagem e a publicidade tem um papel muito importante, que é captar a alma do ser indígena. Iniciativas como esta da Varanda são fundamentais para a construção de uma publicidade mais indígena, feita a partir da visão dos indígenas e, por que não, pelos próprios indígenas”, declarou.
Rodrigo Motta, diretor de Publicidade da Varanda, lembra que o primeiro passo da agência em direção a uma publicidade mais diversa e inclusiva foi dado há muito tempo, quando a empresa passou a implementar estratégias para tornar a própria equipe mais diversa, como a criação de vagas afirmativas, o estímulo à subscrição de pessoas pretas e LGBTQIAPN+ e a realização de eventos que valorizam quem atua pela diversidade. Essa representatividade, por sua vez, se reflete nas ações e produtos da Varanda.
“O trabalho da publicidade é levar a informação certa no momento certo para estimular essa reflexão e lembrar, acima de tudo, que essas pessoas precisam ser representadas. Cabe a nós, profissionais da publicidade, ver a comunicação representada por todos, a gente precisa fomentar esse debate. Por isso procuramos, a todo momento, provocar essa reflexão sobre diversidade, representatividade e inclusão entre nossos clientes, e não só em datas comemorativas. Precisamos inserir na nossa cultura, na nossa comunicação para fazer com que essas pessoas sejam lembradas e representadas, sensibilizar o público para essa realidade. Não buscando o ‘top of mind’, mas o ‘top of heart’”, finalizou.
Cruzamento de olhares
Espaços abertos para o diálogo como o realizado nesta sexta pela Varanda também são uma oportunidade de promover um cruzamento de olhares entre representantes de grupos minorizados e profissionais de diversas áreas ligadas ao mercado publicitário, inclusive os clientes da agência, estimulando a solidariedade ativa na sociedade. Foi assim durante a palestra de Jonas, que abordou as ameaças do marco temporal para a proteção dos direitos, territórios e povos indígenas, e explicou como a publicidade e as mídias em geral podem contribuir para a luta dos povos originários.
“O marco temporal tem uma relação direta com a proteção dos territórios indígenas e, consequentemente, a alimentação, saúde, educação e a cultura desses povos. Se a gente ameaça os territórios, a gente está ameaçando a representatividade indígena em todos os espaços. A publicidade pode ser uma aliada dos povos indígenas contra essa violação sistemática de direitos”, afirmou.
Sobre a Varanda
Fundada em 2005, a Varanda é uma multiagência premiada com atuação em estados como Pará, Roraima e São Paulo. Reconhecida por integrar múltiplos canais de comunicação, a agência oferece soluções completas para seus clientes.
Fotos: Divulgação/Varanda