A recente operação governamental no Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho, que resultou em 121 mortes confirmadas, expõe não apenas a violência física, mas também os severos impactos na saúde mental e no bem-estar dos residentes.
Cenas impactantes revelaram moradores do Complexo da Penha removendo corpos da mata próxima, expondo-os nas ruas. Além do trauma imediato dos confrontos, estudos indicam que a violência diária afeta profundamente a saúde dos que vivem em áreas de conflito no Rio de Janeiro.
Um estudo de 2021, que entrevistou mais de 1,2 mil moradores do Complexo da Maré, com cerca de 140 mil habitantes, apontou que aproximadamente 57% temiam ser atingidos por balas perdidas “com frequência” ou “sempre”. O medo de que isso acontecesse com alguém próximo era ainda maior, atingindo quase 65%.
Essa constante sensação de medo se reflete em um aumento nos distúrbios de saúde mental em áreas afetadas pela violência. Um levantamento do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), que analisou o impacto da guerra às drogas em seis comunidades cariocas, revelou diferenças significativas entre áreas mais e menos violentas.
O estudo identificou que a ocorrência de ansiedade, medida por questionários, saltava de 16% para quase 25% em áreas mais expostas a tiroteios. A depressão quase duplicou, passando de 15,7% em comunidades menos atingidas para 29,6% nas mais afetadas.
Os impactos da violência não se restringem à saúde mental. Doenças sistêmicas também são mais comuns em áreas de conflito. O levantamento do Cesec revelou um aumento estatisticamente significativo em diagnósticos autorreferidos de hipertensão arterial (de 16% para mais de 21%) e insônia prolongada (de 5,1% para 8,7%) em locais com maior violência.
Além da maior prevalência dessas condições, especialistas alertam para os riscos ampliados inerentes a essas morbidades crônicas, especialmente em áreas marcadas pela ausência do Estado, o que dificulta o acesso a serviços de saúde para populações negras e periféricas.
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